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ÀS VEZES O CASAMENTO SE TORNA O INFERNO NA TERRA

– Estado civil?

– Viúva, graças a Deus…

Este fragmento de diálogo simplesmente me chocou. Nossa, a vida a dois dessa senhora (estava na casa dos setenta anos) foi assim tão ruim que simplesmente agradeceu o fato de seu par ter-se ido desta para melhor? Não sou ninguém para julgar. Mas não posso negar que fiquei, no mínimo, desconcertada com tal declaração…

Em realidade essa é uma situação mais comum do que seria aceitável. Por muitas vezes vi casais que andavam sempre juntos. Eram inseparáveis. Mas, quando o marido partia para o outro plano, invariavelmente a viúva costumava comentar entre suas amigas….

– Já foi tarde…

Sim, há casos em que a esposa fica inconsolável, sente falta do marido. Mas infelizmente não é regra, é exceção. Na melhor das hipóteses a mulher reage com indiferença quanto a partida de seu consorte. O sentimento de perda, da falta que esse poderá fazer em seu futuro, bem… normalmente não existe. O que há entre essas é a sensação de alívio, como se um peso tivesse sido tirado de suas costas… e aí fico pensando… vale a pena viver uma relação nesses termos, onde a partida do marido é vista como uma coisa boa… benéfica para a esposa?

Constatando esse fato, no final das contas é melhor um relacionamento onde os dois tem a liberdade para terminar a união quando acharem melhor. Embora saibamos que nem sempre tal é possível. Porque a Sociedade tem regras não escritas que regem a vida de seus componentes. E ainda não é de bom tom casamentos se dissolverem como a névoa ao primeiro raio de sol…

Se considerarmos as declarações da maioria das viúvas, o casamento para as mulheres é um inferno. Afinal, ao menos é essa a conclusão a que podemos chegar, não há nenhum atrativo em tal união. “Tem os filhos”, alguém pode dizer… sim, com a união do casal vem os filhos. Que na maioria das vezes é a única motivação para que os dois permaneçam juntos…

O Universo Feminino e o Universo Masculino, em seu dia a dia tem diferenças. Hoje, nem, tão gritantes, assim. Mas aqueles que já estão nesse plano a cinco, seis décadas atrás, enfrentaram um mundo totalmente diferente do qual estamos vivendo hoje…

Sem querer defender quem quer que seja, temos que nos lembrar de uma coisa… cada pessoa tem sua forma de ver o mundo. Quando duas pessoas se encontram e acabam por se unir em matrimônio, isso se deve ao fato de que ambas tinham ideias semelhantes…. eu disse semelhantes, e não iguais… e isso as incentivou a se unirem e constituírem uma família…

Infelizmente o dia a dia faz com que o mundo encantado no qual o jovem casal se encontrava vá se desmoronando pouco a pouco. A realidade é dura e não há como fugir desta. E não podemos nos esquecer que não há duas pessoas neste mundo que vejam tudo da mesma maneira… cada um vê o mundo com seus próprios olhos e por esse motivo acabam por discordar de muitas coisas que, de outra maneira, seria visto de outra forma…

Hoje os dois vão para a luta, mas até a algum tempo atrás o homem era o responsável pela parte financeira da família. A mulher administrava o lar, que nunca foi reduto masculino. Mas quem tinha que cuidar da manutenção da mesma era o homem, que saia ainda de madrugada para o trabalho e, não raro, chegava altas horas da noite… cansado da luta, queria apenas encontrar um reduto onde pudesse repousar por algumas horas, antes de retornar para a batalha…

Ontem, como hoje, a mulher tinha domínio total sobre o lar. Sim, o homem poderia até ser violento no convívio com a família… mas o poder sobre o lar era dela. O marido não apitava nada, pois não tinha a menor noção de como a vida corria naquele pequeno reino onde a mulher era a rainha. Seu papel era o de provedor, simples assim. O resto, não era com ele…

E aí começavam as divergências. Afinal, desde os primórdios da história o lugar dos homens sempre foi nos bares da vida, onde cada um se embebedava e contava suas desventuras entre seus iguais. E depois de uma noitada regada a álcool, lá ia o moderno gladiador trocando as pernas para seu merecido repouso…

Bem, uma pessoa cheirando a álcool não é a melhor das referências. Sem contar que seu juízo não funciona da melhor maneira… e aí começavam as desavenças. Não vou dizer quem estava certo ou errado nessas situações. Afinal, toda história tem dois lados. Mas geralmente só ouvimos um e damos nosso veredito. Porque nos esquecemos o quanto a vida é complexa…

Por motivos vários a vida dos dois acabava por entrar em um turbilhão, fazendo com que o Paraíso com o qual sonharam se tornasse o mais terrível dos Infernos. E depois de algum tempo não mais viviam juntos, apenas conviviam. Se suportavam, pois a Sociedade não aceitava que os dois pudessem se afastar um do outro, tentando viver simplesmente. Os dois estavam presos em uma armadilha e não havia como fugir…

O final da história? O fragmento de diálogo, que abre esse texto. Quando um não matava o outro no decurso de suas vidas em comum, o sentimento de alívio vinha para aquele que sobreviveu à partida do outro em caso de morte natural. E assim caminha a humanidade…

Felizmente hoje as pessoas têm a mente mais aberta e, se uma união não dá certo, simplesmente se separam. Melhor cada um seguir seu destino que os dois sofrerem uma vida onde nada dará certo no final… onde a frase “felizes para sempre”, mesmo que sendo apenas um sonho, não venha a se tornar um pesadelo…

Que a Luz do Altíssimo ilumine os corações de todos os casais deste mundo e que, ao invés de ódio e rancor, apenas o Amor encontre morada em seu seio… e que aqueles que não estão bem com seus parceiros consigam reunir a coragem necessária para reiniciar sua vida, procurando sempre viver e deixar seu par viver no Paraíso… e não transformar suas vidas em um Inferno nesse plano…

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