Notibras

Bartô, deus da moral, merece lugar no Olimpo

Confesso que poucas vezes, em meio às agruras e ironias da política brasiliense, me vi tão comovido quanto agora. É que Bartolomeu Rodrigues — o Bartô que conheço há meio século, jornalista de fibra e de ética inabalável — decidiu entregar o cargo de Secretário de Relações Institucionais do governo Ibaneis Rocha. A razão? A sanção de uma lei que cria, em plena capital da República, o Dia de Combate ao Comunismo. Ao que comparei, no meio da semana, ao Comando de Caça dos Comunistas.

A notícia, de início, me soou como mais uma nota de rodapé no diário da mediocridade política. Mas não. Era um grito. Um gesto. Um soco ético contra o conformismo que tomou conta do poder.

Bartô não suportou assistir à banalização da intolerância travestida de legislação. E, em vez de fingir que nada viu, como tantos, preferiu erguer-se sozinho e altivo como é, e deixar o cargo. Não o fez por vaidade, mas por convicção. Não o fez para agradar plateias, mas para honrar a própria consciência.

Conheço Bartô desde os tempos em que a palavra escrita ainda tinha cheiro de tinta e coragem. Já estivemos juntos em trincheiras e, admito, também nos afastamos por motivos tolos, como só os velhos amigos são capazes de fazer. Mas hoje, diante do seu gesto, não há briga, mágoa ou silêncio que resistam.

Por isso, ofereço-lhe publicamente um símbolo de paz: uma cadeira no Olimpo. Não aquele Olimpo mitológico, habitado por deuses de bronze e trovões, mas o Olimpo dos homens justos, dos que se recusam a negociar a dignidade em nome de conveniências.

Bartô mostrou ser, nesta hora sombria da história, um verdadeiro deus da democracia. Um daqueles raros que não precisam de templos, porque ele já os carrega dentro de si.

Que sua renúncia não seja vista como desistência, mas como afirmação. Que sirva de espelho aos que ainda acreditam que há princípios que não se dobram, nem se vendem, nem se silenciam.

E se há justiça nos céus da República, que reservem a Bartô, ao lado dos grandes, a cadeira que lhe cabe por direito. Como homem livre, coerente e humano que foi, é e sempre será.

…………………….

José Seabra é Diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras, de passagem por Brasília.

Sair da versão mobile