Este livro conta a estória do menino Beto. Garoto de 7 anos, extrovertido e inteligente, muito curioso e cheio de vida.
Beto herdou do pai, seu Rafael, o dom de ser questionador, querer saber de tudo tintim por tintim. Por vezes deixava os pais desconsertados com suas perguntas. Se admiravam como uma criança daquela idade poderia fazer perguntas tão á frente do seu tempo. Beto sorria sempre e ficava na dele esperando a resposta e quando ela não lhe satisfazia ele logo fazia outra ainda mais desconcertante.
A mãe, dona Alice, dava um sorriso amarelo e ficava sem jeito, às vezes inventando alguma coisa para satisfazer o garoto. Ele, claro, insistia na pergunta e dona Alice dizia:
– Quando teu pai chegar ele diz. Pergunta pra ele.
Desta vez Beto estava curioso com as diversas lendas que os pais lhe haviam contado ao longo da vida. Foi ai que ele perguntou:
– Mãe, a Cuca existe mesmo?
– Não filho, ela não existe.
– E por que você mentiu pra mim?
– Ora filho, a gente tava cansado e eu queria que você fosse dormir. Era hora.
– Mãe você e papai mentiram! Você disse que foi pra roça e papai pro cafezal e a Cuca iria me pegar. Eu fiquei só mãe!
– Filho nos perdoe. A gente só queria que você dormisse.
– Me assustando daquele jeito?
– Foi um erro filho, não faremos mais.
– Hum. Acho bom.
– Mãe, quem é dona Chica?
– Sei lá filho. De onde tirou isto menino?
– “Atirei o pau no gato, tô tô, mas o gato tô tô não morreu rêu rêu…”
– Ah filho isto é uma antiga canção para crianças.
– Para crianças? Atirar o pau no gato? Mãe isto é maldade!
– É só uma canção filho. Só isso!
-É né? E o pobre do gato tomando pauladas e a dona Chica se admirando…
– Mãe quem é dona Chica?
– Sei lá filho. É só um personagem. Não existe.
– Mais uma mentira né?
– E papai noel mora onde? Ele existe?
– Não filho. Ele também não existe. Mamãe tá ocupada e você ai a me fazer tantas perguntas…
– Mãe este mundo é uma mentira só. Estou decepcionado.
– Calma filho. Também não é para tanto.
Á noite quando o pai chegou a saravaida de perguntas continuou.
– Papai, como o sr sabe que eu tenho medo de careta?
– Oi filhão. Tudo bem? Quem disse que você tem medo de careta filho?
– A mamãe disse.
– Como assim?
– Lembra daquela musiquinha que ela vivia cantando que era assim: “Boi, boi, boi. Boi da cara preta. Pega este menino que tem medo de careta.”
– Lembro sim filho. Musiquinha legal né?
– Legal nada pai. Oxente. Por que mamãe mandava o boi me pegar?
– Não é nada disso menino. Era só pra você dormir.
– Você e mamãe…sei não viu.
Passados dias o menino parecia esquecer e dava um descanso aos pais, porém logo vinha com novas perguntas desconcertantes.
– Manhê…mãe…
– Que foi coisa mais linda da mãe?
– Mãe me diz por que o Super homem usa a cueca por cima da calça?
– Sei lá filho. Você tem cada pergunta (rindo).
– O certo não é usar a cueca por baixo da calça?
– É, filho!
– Então por que ele não usa assim?
– Não sei filho. Talvez lhe dê mais poder. Que acha?
– Num acho nada! Só quero entender.
– Eu vim no bico de uma cegonha foi?
– Pergunta pro teu pai. Ele deve saber.
– Sabe nada! Papai só me enrola. A senhora também…
– Afinal quem nasceu primeiro, foi o ovo ou a galinha?
– A galinha, filho. Sem galinha não tem ovo.
– Mas se sem galinha não tem ovo, como foi que a galinha nasceu?
– Ah, filho, mamãe tá ocupada fazendo almoço. Pergunta tudo isto para o teu pai tá bom?
– Mamãe, mamãe!
– Que foi, filho? Está tudo bem?
– Mãe me responde: Se a terra é redonda, por que nós não caímos pelas bordas?
– Ih, filho! Isto quem sabe é o papai. Tá na hora do almoço. Vá tomar banho. Já vamos comer.
Apesar de desconcertados, os pais sabiam que era natural a criança ter muitas dúvidas naquela idade. Ele tinha muitas perguntas. Difícil era eles terem as respostas.
– Fessora, quem foi mesmo que tocou fogo em Roma?
– Dizem que foi Nero, Beto.
– Mas por que ele fez isso?
– Sei lá deve ter ficado louco.
Beto seguiu assim até tornar-se adulto, quando já encontrava suas respostas sem desconcertar os adultos.
Hoje ele vê nos filhos aquilo que já fora para os pais. Seu lindo casal de rebentos deixava os pais perdidos tentando achar respostas. Os avós sorriam e vibravam com a sequência de perguntas pra lá de estranhas. Beto revivia sua infância enquanto a esposa Marluce suava para responder.
