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Bienal abre as portas com reflexões sobre a humanidade

Inspirada no poema Da Calma e do Silêncio, da poeta afro-brasileira Conceição Evaristo, a 36ª edição da Bienal de São Paulo abre ao público neste sábado (6), no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, do Parque Ibirapuera, na capital paulista, reunindo 125 artistas e coletivos. A mostra, que é gratuita, fica em cartaz até o dia 11 de janeiro.

Essa é a edição mais longa da Bienal em sua história. Segundo a presidenta da Fundação Bienal de São Paulo, Andrea Pinheiro, a ideia de expandi-la para um período de 4 meses expositivos tem o objetivo de aproveitar o período de férias escolares e estimular para que mais pessoas possam visitar o evento.

Nas últimas edições, a Bienal recebeu mais de 700 mil visitantes, reafirmando seu lugar como maior evento de arte contemporânea do Hemisfério Sul.

“Com um grande espaço de encontro, a Bienal é marcada pela diversidade não só de artistas, mas também de produtores. A mostra e toda sua programação são inteiramente gratuitas. Esse é um ponto surpreendente”, destacou a presidente da Fundação Bienal.

“Estendemos a duração da Bienal por mais quatro semanas, com visitação até o dia 11 de janeiro, para ampliar esse projeto tão significativo, incluindo o período de férias escolares, que é um período super importante para os museus de São Paulo”, acrescentou.

Para este ano, destacou a presidente da Fundação Bienal, o objetivo é não só ampliar o público visitante, mas também expandir as atividades educativas.

“Na última Bienal, quase 70 mil crianças foram atendidas aqui nesse pavilhão pelo nosso programa educacional. Este ano, ampliamos esses esforços de captação para estabelecer uma nova meta de 100 mil crianças [participando das atividades educativas] no pavilhão. Fora isso, nós vamos treinar 25 mil professores da rede pública, mais do que os 18 mil da última Bienal. E isso tem um impacto enorme de mais de 1 milhão de crianças aprendendo os conteúdos que nós divulgamos”, explicou.

Humanidade como prática
Sob o título Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática, extraído de versos do poema de Conceição Evaristo [Nem todo viandante anda estradas, há mundos submersos, que só o silêncio da poesia penetra], a proposta da Bienal de Artes é repensar a humanidade. A curadoria geral é de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, com co-curadoria de Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza, Keyna Eleison e da consultora de comunicação e estratégia Henriette Gallus.

“O poema de Conceição Evaristo, Da Calma e Do Silêncio, nos faz questionar essa estrada em que a humanidade está viajando”, explicou Bonaventure Soh Bejeng Ndikung.

“[Atualmente] essa viagem ameaça uns aos outros com armas nucleares. Há também a viagem da fome, de manter as pessoas passando fome embora tenhamos tantos grãos e tantos silos no mundo todo. Há pessoas que não têm onde morar. Temos também a jornada do colonialismo e de escravizar pessoas. Então, nós aqui estamos refletindo sobre que outros caminhos podemos seguir”, acrescentou.

Apesar desse avanço do projeto de desumanização e de outras emergências no mundo atual, tal como as guerras, Ndikung se diz um otimista e aponta a arte como uma maneira possível para se enfrentar essas violências e resistir à destruição.

“A arte nos dá a possibilidade, a sensibilidade e as ferramentas para reconsiderarmos o mundo no qual vivemos”, avalia.

Em entrevista coletiva à imprensa, Ndkung ressaltou que uma das características de ser humano é ter empatia, destacando que esse é um dos temas presentes na Bienal deste ano. Para ele, é preciso não só sentir a dor do outro, mas também poder compartilhar de suas alegrias e celebrações.

“Ser humano é superar a indiferença da dor dos outros e entender quais são as causas dela. Ser humano é ter consideração, ter compaixão, é abraçar as multiplicidades internas. É reconhecer que nas ruínas e nos escombros da nossa destruição, há abundância. É a gente pensar na riqueza que vai além do termo capitalista. Ser humano não é ser passivo. É uma prática ativa”, destaca.

“Nosso desejo principal é pensar como a arte contemporânea pode nos orientar na construção de outros imaginários políticos e exercer a nossa própria humanidade”, lembra o cocurador Thiago de Paula Souza,

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