Como já falei várias vezes, moro perto de uma represa. A Billings. Ela foi idealizada em 1910 pelo engenheiro Walter Charnley, que escolheu entre as escarpas da Serra do Mar o Rio Itapanhaú, que desagua em Bertioga, para um grande projeto de geração de energia. Mas, em 1923, o engenheiro Asa White Kenney Billings, estudando a região, preferiu que fosse represado o Rio Grande ou Jurubatuba e desviasse as águas através de um canal chamado Summit Control para o Córrego das Pedras, com curso serra abaixo…
A represa foi idealizada em 27 de março de 1925 pelo engenheiro Billings, que trabalhava na concessionária de energia Light, hoje extinta. O objetivo da mesma era armazenar água para gerar energia elétrica para a Usina Henry Borden, em Cubatão. Ainda em 1925 a Light iniciou a construção do dique do Rio das Pedras e em 1927 foi finalmente inundada. Em 1937 foram iniciadas as obras do dique do Rio Grande e em 1940, as estações elevatória de Pedreira e Traição, para aumentar a vazão das águas…
Bem, eu moro na Unidade Alvarenga, uma das oito subdivisões da represa. As outra sete são Riacho Grande, Rio Pequeno, Capivari, Pedra Branca, Bororé e Cocaia, sendo que os únicos braços da represa utilizados para fornecimento de água para a população são os braços Taquecetuba, Riacho Grande e Rio Pequeno, sendo este ultimo um reforço para o Sistema Alto Tietê…
A represa é piscosa. Há várias espécies de peixes na mesma, entre elas o lambari, a tilápia, a traíra… algumas famílias a usam para seu sustento, pescando não só para consumo próprio como também para comercializar. Bem, por aí dá para perceber a importância da represa para os moradores de seu entorno.
Claro que a nova geração não faz ideia, mas nos idos anos de 1960/1970, havia vários clubes náuticos em suas margens. Boa parte dos bairros ribeiros tem como principal nomenclatura o termo “balneário”. Isso porque, em sua origem, realmente eram balneários, onde ficavam ancoradas embarcações de luxo. Quase todo o entorno da represa era constituído de sítios de pessoas de posses, que podiam se dar ao luxo de manter suas embarcações luxuosas. Era um espetáculo aos olhos dos passantes ver aquela exposição de modelos náuticos variados. Perto de minha casa havia um… o Balneário Mar Paulista, onde moro desde minha mais tenra infância…
A região era simplesmente linda. Quando meus pais aqui chegaram, ainda era um sertão a ser desbravado. Florestas, regatos, trilhas de gado, carroceiros passando pelas estradinhas de terra, oferecendo seus produtos para os moradores… ao longe, geralmente a uma ou duas horas de caminhada a pé, uma venda onde se fazia a compra do mês… sim, era uma região rural…
O progresso foi chegando, as ruas foram sendo asfaltadas, as florestas derrubadas, a vida selvagem extinta… e claro, os balneários foram pouco a pouco desaparecendo, até que ficaram apenas na lembrança dos moradores mais antigos, nos quais me incluo…
A pouco mais de um ano o Alcaide de minha cidade resolveu criar um serviço náutico, ligando os braços Alvarenga e Cocaia. Quando o projeto saiu do papel e foi realmente posto em funcionamento, que felicidade… um pouco da magia do passado retornou aos nossos olhos. Barcos modernos e confortáveis foram colocados à disposição da comunidade, encurtando o tempo de viagem entre os bairros e a região central… não de São Paulo, mas de Santo Amaro, que é onde eu moro. Aliás, a décadas atrás… e põe décadas nisso… Santo Amaro era uma cidade autônoma que, por motivos vários, acabou sendo anexada à cidade de São Paulo. Mas essa é uma história para outro momento…
Essa semana consegui finalmente um tempo livre para fazer um passeio pela Billings, utilizando o meio de transporte náutico. Meu Deus, como foi lindo. A equipe que trabalha no cais é super atenciosa. Os tripulantes da nau, eficientíssimos. Tornam a viagem ainda mais tranquila devido à atenção dispensada aos passageiros. E os barcos são confortáveis, além de rápidos em sua travessia. Fomos eu, minha cara metade e minha pequenina nesse passeio. Simplesmente adoramos. Ver as ondas se formando enquanto o barco singrava as águas, as garças e frangos d’água, os aguapês, em um ponto ou outro uma barquinho com pescadores em plena atividade… é como se estivéssemos no Paraíso, tal sensação de prazer durante a viagem. Sim, foi um passeio muito gostoso, que pretendo repetir mais vezes…
Esse é um serviço que muitas pessoas ainda não utilizam… mas mesmo para lazer é simplesmente divino. Eu adorei. Minha cara metade e minha pequenina, também. Tudo que posso dizer é que foi uma experiência incrível…
