Depois de muito tititi envolvendo os bancos Master e BRB, a capital da República – que aguardava um terremoto -, registrou na noite de terça-feira, 30, no máximo, um leve tremor. A tão esperada acareação envolvendo o banqueiro Daniel Vorcaro, vendida nos corredores de Brasília como o “xeque-mate” da investigação, terminou de forma anticlimática e reveladora. Em vez de explosões e manifestações bombásticas, o encontro foi marcado por um silêncio eloquente sobre as supostas provas cabais de fraude.
O relógio foi a testemunha mais implacável da fragilidade da denúncia. O confronto direto durou escassos 40 minutos — um tempo irrisório para quem prometia desvendar um esquema bilionário e complexo. A brevidade do ato expôs uma ferida exposta na tese acusatória: onde há crime robusto, há embate longo; onde a discussão morre rápido, é porque a munição da acusação era de festim.
Nos bastidores, a palavra de ordem hoje é “desidratação”. Fontes com acesso direto ao desenrolar dos fatos relatam que a narrativa de um rombo financeiro estrutural não resistiu ao teste do “olho no olho”. Sem a apresentação de documentos irrefutáveis ou evidências materiais de prejuízo, a acusação, que chegou à sala com ares de gigante, saiu de lá diminuída, incapaz de sustentar a gravidade das manchetes anteriores.
O que chamou a atenção não foi o que foi dito, mas o que deixou de ser mostrado. A expectativa de que surgiriam a “arma do crime” e o “corpo do delito” foi frustrada pela realidade dos autos. As divergências mantiveram-se no campo estritamente técnico, muito distantes do dolo criminoso que se tentava imputar à gestão do banco. Quem esperava sangue, encontrou apenas divergências burocráticas.
O saldo político do dia 30 é inequívoco: ao ver a contraparte incapaz de materializar as suspeitas em fatos concretos, Vorcaro ganha terreno vital na guerra de narrativas e respira. A tese de que houve um erro interpretativo — ou má vontade — ganha corpo, enquanto a presunção de culpa, antes absoluta em certas rodas, começa a evaporar diante da falta de materialidade.
O ano termina, assim, com uma reviravolta silenciosa. Se a intenção era fechar 2025 com uma condenação moral definitiva do Banco Master, o tiro saiu pela culatra. O caso entra em 2026 sob uma nova temperatura, muito mais branda do que o noticiário sugeria. Para quem apostava no caos, a acareação entregou apenas a normalidade de quem não tem o que temer.
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Carolina Paiva é Editora do Quadradinho em Foco
