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Brasília vive calamidade e só Rollemberg não vê

Foto/Arquivo Notibras

Josiel Ferreira

A capital da República, como de resto a quase totalidade das unidades da Federação, vive um quadro de calamidade pública. Os serviços básicos não são oferecidos à sociedade. Faltam escolas, um sistema mínimo de saúde, transportes, segurança.

Mas o governador Rodrigo Rollemberg, do alto do seu pedestal, parece não enxergar isso. Pinta um quadro com cores do arco-íris, enquanto a crise se aprofunda. Diálogo com os demais poderes e com a sociedade parece não ser o forte do Palácio do Buriti. Enquanto isso, a situação se deteriora.

Há quem queira ajudar o Distrito Federal a sair do buraco, mas parece estar difícil. Um exemplo é a Câmara Legislativa, que começa o ano sob um novo comando. Nesta entrevista exclusiva, o presidente Joe Valle (PDT) joga franco, coloca as cartas na mesa. O deputado não se coloca como oposição ao governo, mas como presidente de um Poder – o que de fato, é. Acena com um socorro, mas deixa claro a Rollemberg que os deputados distritais não serão subservientes ao Buriti.

Veja trechos da entrevista:

Notibras – Como o senhor avalia a situação de Brasília, e como trabalhar junto com o governo em benefício da população?

Joe Valle – Estamos passando por uma crise plena no país. É o país todo, não só na nossa capital. É uma crise de gestão profunda foi acontecendo ao longo do tempo. Não houve nenhum momento para se estancar a crise, especialmente aqui, onde os problemas são crescentes.

Notibras – Isso é de agora?

Joe Valle – Não! Desde muito tempo os governos problemáticos. Então, no modelo de democracia representativa que a gente vive, o soluço mandatário, que chamo de 4 anos não permite planejamento de longo prazo por que você muda tudo, sucessivamente de quatro em quatro anos e os processos de gestão não têm tempo para amadurecer. Por isso a gente está vendo o que está aí.

Notibras – Como corrigir isso?

Joe Valle – Se os governantes (como Rollemberg) não tomarem uma media de ajuste claro de longo prazo sem pensar em reeleição, a situação tende a melhorar. O que não pode é assumir o governo pensando na reeleição, porque a reeleição, pensada como foco principal, é sempre um câncer a desgastar o processo administrativo.

Notibras – Que câncer seria esse?

Joe Valle – As concessões, os conchavos, os acordos políticos, as benesses. Aí, fica difícil pensar em gestão. Nós sofremos desse mal que chamo de reeleição.Não é lópgico ao governador que assume, já pensar na própria reeleição.  Acho que neste momento amargo que estamos passando (no Brasil como um todo) precisamos ser realistas. O povo precisa ser informado da realidade, mas sem maquiagens. Também não adianta querer buscar dinheiro em banco estatal, trazer recursos do exterior se encher de dívidas e ver a população minguando, morrendo.

Notibras – Qual o antídoto para essa crise?

Joe Valle – A nível de Brasília, posso garantir que a Câmara Legislativa vai trabalhar com afinco nos próximos dois anos. Temos um projeto estratégico. São planos de ações para fiscalizar, legislar e representar a sociedade. Esse é o nosso compromisso. Esse é o papel da Câmara.

Notibras – Acabou a era do puxadinho?

Quando me dispus a disputar a presidência da Câmara, deixei claro que a palavra chave é autonomia, de independência em relação ao Buriti.  A gente quer autonomia de verdade, fazer isso de forma clara. Outra coisa é com a transparência. Transparência é tudo, nós queremos que tudo seja passado para a população, todas as medidas dos deputados sejam passadas para população e a gente quer participar também das decisões (do Buriti) porque, sendo consultados, teremos muito a ajudar.  Queremos (os 24 distritais) realmente ser respeitados e expormos nossos pontos de vista. Um exemplo claro é o das passagens dos ônibus.

Notibras – O senhor esteve com o governador duas vezes para falar sobre as passagens. Como foram esses encontros?

Joe Valle – As conversas foram de nível elevado. Afinal, eram dois chefes de Poderes buscando o melhor para o povo. Porém, por melhor que tenham sido os encontros, esbarramos no lado irredutível do governador. E isso me autoriza a convocar a Câmara para vermos o próximo passado. Queremos reduzir o preço das passagens. E se a maioria dos deputados disser sim a um projeto de Decreto Legislativo, teremos vencido essa batalha.

Notibras – O governador errou ao rejeitar as sugestões da CPI dos Transportes?

Joe Valle – Claro tem que sim. Houve um erro claro. Ele também sabe que houve um erro, e falamos sobre isso. O que nós pedimos ao governador é que ele faça uma suspensão por 15 dias do aumento. Para que a gente possa com grupo de trabalho nosso preparado técnico a gente possa rever essa questão da taxa das tarifas, reavaliar. A Câmara está disposta inclusive a colocar parte do Orçamento dela à disposição para ajudar. Também queremos discutir a questão da gratuidade com bastante seriedade e profundidade, juntando todo mundo, ouvindo as pessoas que usam o transporte coletivo. O setor produtivo, que também é vítima desse aumento, precisa participar das discussões.

Notibras – Presidente, o senhor é oposição ou governo?

Joe Valle – Nem uma coisa, nem outra. Sou presidente da Câmara. Essa é uma lógica clara. Eu deixo a partir de agora de ser da base do governo, e passo a ser o presidente de um Poder. Que não é nem situação nem oposição. O cargo exige uma postura de ter posição sempre em todos os sentidos. A gente tem um Poder aqui autônomo. A Câmara será independente, né? Agora, logicamente, essa autonomia não significa oposição sistemática. O clima será de harmonia, mas não significa subserviência. Democracia é isso. A harmonia é um dos pilares da democracia, desde que os poderes sejam autônomos.

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