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Brasiliense vive em agosto clima feito para beduínos

Agosto é o mês mais difícil para o brasiliense. A seca de Brasília mostra sua face mais cruel justamente agora. A umidade do ar cai a níveis quase desumanos — às vezes abaixo de 10%. O corpo sente na pele: o nariz sangra todos os dias, a dor de cabeça insiste em acompanhar a rotina, os lábios racham, a garganta arranha. A paisagem também sofre: tudo seca em agosto. A grama esturricada parece palha esquecida ao sol, as árvores ficam amareladas, frágeis, como se pedissem socorro.

É curioso pensar que já vivi no Rio Grande do Sul, onde usava desumidificador de ar para enfrentar o excesso de umidade. Aqui em Brasília, a ironia é outra: as pessoas correm para comprar umidificadores e improvisam toalhas molhadas no quarto, como se fosse possível recriar a chuva dentro de casa.

Só os ipês salvam a paisagem. Eles explodem em cores e dão um alento para os olhos e para o coração. São como uma promessa silenciosa de que a vida resiste até nos períodos mais áridos. O fim da seca é a parte poética dessa história: a chegada das primeiras chuvas é aguardada como quem espera a visita de um amor. Cada nuvem carregada no céu parece um bilhete de esperança. Quando finalmente a água cai, é como se a cidade inteira respirasse aliviada, de alma lavada.

Agosto, em Brasília, é um teste de resistência. Mas também é o mês em que aprendemos a esperar, a valorizar a chegada da chuva e a reconhecer beleza até no meio do deserto.

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