Tem dias que eu olho em volta e penso: minha casa foi tomada por um furacão com menos de um metro de altura. Uma criança de quase dois anos é isso: um fenômeno natural. Não dá pra conter, não dá pra prever. Só dá pra tentar sobreviver.
Os brinquedos? Espalhados em pontos estratégicos da casa, como armadilhas. Um bloquinho de montar na cozinha, um livro mordido no banheiro, uma boneca com a cabeça virada no estilo filme de terror no meio da sala. Andar descalço é um risco que só quem tem coragem (ou já desistiu de lutar) encara.
E o barulho? Ah, o barulho. Tem música da Galinha Pintadinha misturada com panela batendo, criança gritando “olha, mamãe!” enquanto tenta subir no sofá, e o latido dos cães que já perderam toda a paciência e o orgulho. Meus pobres cachorros… antes tão imponentes, agora correm assustados ao verem aquele serzinho chegando com uma escova de dentes na mão e um olhar de quem vai “dar banho no au-au”.
Às vezes penso que devíamos receber algum tipo de adicional por insalubridade doméstica. Ou pelo menos um voucher pra um spa silencioso, sem brinquedos sonoros nem gritos agudos no pé do ouvido. Mas aí, no meio do caos, vem ela, me dá um abraço apertado, encosta a cabecinha no meu ombro e diz “mamãe”. E tudo se reorganiza dentro de mim, mesmo que a casa permaneça um campo de guerra.
É cansativo? Sim. Caótico? Com certeza. Mas também é hilário, surpreendente e absolutamente cheio de amor. E barulho. E brinquedos. E vida.
