Tenho observado, com um misto de espanto e divertimento, o comportamento de certos políticos que se encontram às portas da cadeia. A iminência da prisão tem feito verdadeiros estragos — não apenas na rotina, mas principalmente na compostura. Gritam, se vitimizam, apelam para supostos problemas de saúde, para o divino, para o WhatsApp. De repente, tornam-se todos grandes defensores da liberdade, da democracia e do Estado de Direito. Uma beleza de se ver, não fosse o espetáculo tragicômico.
É um desespero tão escancarado, que quase sinto pena. Quase.
Impossível não lembrar de outra situação — bem diferente — em que alguém, diante da mesma ameaça, escolheu a altivez em vez do chilique. Sim, refiro-me ao atual presidente. Naquela época em que foi preso de forma arbitrária, covarde e política, ele manteve a cabeça erguida. Não se escondeu atrás de falsos convites para visitar o estrangeiro, nem tentou fugir para outro país ou se esconder em embaixada.
Ao contrário dos desesperados de hoje, Lula enfrentou tudo com uma serenidade que beira o sobrenatural. Não há como não fazer comparações. Mandela, quando injustamente preso por décadas, saiu com flores na mão. Mujica, após anos de cárcere e tortura, saiu para plantar hortas e governar com ética. E ele, nosso presidente, saiu da prisão para se eleger com votação histórica — e, ironicamente, para hoje assistir, do Planalto, os seus algozes perdendo a pose e, quem sabe em breve, a liberdade.
É curioso como a cadeia revela o caráter. Para uns, o medo. Para outros, a coragem. Para alguns, a vergonha. Para outros, a história.
