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Carpideiras choram sobre panetones comprados com o dinheiro sujo de Durval

As carpideiras voltaram à cena, chorando lágrimas de conveniência sobre os panetones que embalaram o maior escândalo natalino da política brasiliense. O pranto é o mesmo, mas o motivo é outro. É que José Roberto Arruda, o ex-governador do Distrito Federal, cassado por corrupção, improbidade administrativa e formação de quadrilha, vê mais uma vez a porta do Buriti fechar-se diante de suas ambições.

O calendário, impassível como um juiz de toga limpa, não tem piedade dos arrependidos tardios. Desde o último sábado, 4, entrou em vigor o princípio da anualidade — aquele velho, preciso e incômodo artigo 16 da Constituição de 1988, que determina que nenhuma mudança na legislação eleitoral pode valer a menos de um ano do pleito. A regra é simples e cruel. E o que não foi feito até agora, não será feito até outubro do ano que vem.

Portanto, não há milagre jurídico, chicana interpretativa ou despacho de madrugada que devolva a Arruda o direito de disputar a cadeira mais alta do Palácio do Buriti. A Ficha Limpa, sinônimo de uma senhora ímpar que muitos tentam vilipendiar, mas que resiste firme, continua barrando os que trocaram o erário por caixas de presente. A embalagem, papeis de panetone; o conteúdo, notas de reluzentes garoupas.

O ex-governador, outrora o príncipe dos panetones, tenta hoje vestir a toga da vítima, como se tivesse sido condenado por excesso de zelo ou caridade pública. Seus advogados, incansáveis, peregrinam pelos tribunais com a esperança de que a Justiça se confunda, de que o tempo apague o passado, e de que o eleitor esqueça as imagens de Durval Barbosa distribuindo dinheiro em maços e sorrisos.

Mas o Brasil aprendeu ainda que tardiamente que o crime político também deixa manchas indeléveis. O nome de Arruda, associado à corrupção endêmica de um tempo de farras e fitas de vídeo, tornou-se símbolo de uma era que Brasília tenta, em vão, enterrar.

A Lei da Ficha Limpa nasceu justamente para impedir o retorno dos que transformaram o serviço público em balcão de negócios. Foi a resposta moral, embora tardia, de um país cansado de ver os mesmos rostos saírem algemados pela manhã e serem ovacionados à tarde em comícios.

Hoje, enquanto as carpideiras derramam suas lágrimas sobre os panetones embolorados do passado, o eleitor observa em silêncio. E, talvez pela primeira vez, compreenda que algumas portas devem permanecer fechadas. Não por rancor, mas por higiene.

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José Seabra, de passagem por Brasília, é diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras

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