Há gente para todos os gostos, ainda mais enquanto numa mesa de botequim. Desde completos ignóbeis aos mais notáveis filósofos de 51 ou Pitú. Em um ponto entre tais extremos, está o Dirceu, mais afeito aos destilados do que aos fermentados.
— Sou fiel a qualquer nova experiência que me atraia.
— Tipo o quê, Dirceu?
— Prefiro a incerteza do desconhecido à mesmice do cotidiano.
Creio que a maioria dos que o aplaudem nem entende o real significado do dito, assim como a quase totalidade daqueles que o vaiam. Dirceu parece ter vindo a este mundo com propósito quase gêmeo ao do saudoso Abelardo Barbosa, aquele mesmo que o povo dizia que estava com tudo e, nem por isso, ficava prosa. “Eu vim para confundir, não para explicar!”
Outra figura interessante é o Manuel, vulgo Arrependido. Por quê? É que o sujeito bebe todas e mais algumas nos finais de semana, mas, já nas manhãs das ingratas segundas-feiras, pode ser visto com uma Bíblia debaixo do braço, pregando para quem estiver disposto a ouvi-lo. Desse modo, tirando os desavisados, ninguém é besta de parar para escutar tamanha ladainha. Seja como for, basta o relógio apontar 18h na sexta-feira seguinte para que o Arrependido volte a pisar no solo sagrado da senhora cachaça. E digo mais: sem qualquer resquício de arrependimento!
Por falar no Arrependido, não tem como deixar de mencionar a Santinha, cujo nome vou manter em segredo até mesmo para proteger a moça de certos comentários que, não tenho a menor dúvida, seriam todos maldosos. Pois é, a Ludmila… Eita! Escapuliu! Também, quem mandou a guria não se comportar?
Você deve estar se perguntando o porquê do tal apelido. Bem, é que a Ludmila, mulher casada com o Onofre, de vez em quando, aparece acompanhada do marido. Para entender melhor a história, vale a pena informar que o gajo também tem um codinome: Soneca.
Creio até que você já deve ter percebido que o nosso Soneca é do tipo que, quando bebe além da conta, adormece em berço esplêndido, no caso, deposita a face sobre a mesa e ronca a plenos pulmões, como se estivesse em casa. Pois é justamente nessas horas que a Santinha, talvez estimulada pelas caipirinhas, começa a se atirar para cima do primeiro sujeito disponível.
Não vou ser maldoso ao ponto de afirmar que tais flertes foram além de piscadelas, sorrisos e toques de pés maliciosos sob a proteção divina da mesa. Se vi ou não algo além disso, prefiro me abster, mesmo porque, como já li num para-choque de caminhão, que Deus deu a vida para cada um cuidar da sua. Entretanto, como aprendi com minha finada avó, não coloco a mão no fogo nem por mim, quem dirá pros outros.
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Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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