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Centro procura um vice nordestino para fazer sombra a Lula em 2026

Escrevo estas linhas como quem observa de longe uma partida de xadrez jogada em praça pública, mas cujas peças se movem em silêncio, escondidas da vista dos curiosos. No tabuleiro das eleições de 2026, já se cochicha nos corredores que o nome do vice-presidente poderá nascer no coração do Nordeste. Não por acaso, é aqui que repousa o curral eleitoral mais sólido do petismo, um bastião erguido pelo próprio Lula ao longo de décadas.

Mas há uma ironia nesse movimento. Os governadores e senadores de centro, homens e mulheres que se equilibram entre o pragmatismo e a ambição, disputam nos bastidores quem será o escolhido para compor uma chapa encabeçada por algum candidato do Sul ou do Sudeste. É uma luta muda, sem holofotes, onde cada gesto, cada aceno e cada aliança pode significar um degrau a mais na escada que leva ao Palácio do Planalto.

Eu mesmo me pergunto: o que se busca de fato? Representatividade ou sobrevivência política? De um lado, o cálculo frio, pois só com o peso do Nordeste, dificilmente se desmonta o castelo erguido por Lula. De outro, a necessidade de sinalizar que há espaço para novas correntes, que o eleitor cansado das repetições pode enxergar uma alternativa real ao Lula 4.

Os pretendentes nordestinos sabem que não basta carregar o sotaque da terra, a bandeira da seca ou a memória do sertão. Será preciso mais. Um exemplo é a capacidade de dialogar com um Brasil urbano, desigual, fragmentado e cada vez mais polarizado. O vice que vier daqui não será apenas um adorno regional na chapa; será a senha para dizer ao país que há vida política além do lulismo, mas também além dos radicalismos que se opõem a ele.

E assim sigo observando. Na superfície, tudo parece tranquilo, cada governador fingindo que governa apenas, cada senador repetindo que está preocupado com seu Estado. Mas nas sombras, corre a disputa silenciosa, como uma serpente deslizando no mato seco. No fim, talvez Lula sorria — porque mesmo fora da disputa direta, ainda é ele quem dita os movimentos, obriga os outros a se rearrumarem, e mantém o Nordeste como palco central da política nacional.

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