A casa é onde tudo começa
e à medida que envelhecemos, o mundo fica mais estranho
o padrão mais complicado
De mortos e vivos -não o momento intenso- sem antes nem depois
mas a vida inteira a arder e não a vida anônima
de apenas um homem
Como antigas pedras que não permitem decifração.
há um tempo para o chegar; há o de experimentar e o de partir
como amanhecer e seguir pelo breve dia branco
para anoitecer à luz de velas, folheando o velho álbum
de fotografias a amarelar
Luz de sótão revirado quando o amor é mais ele próprio,
Intenso e tenso, e o viver parece
um bando de maritacas a tagarelar.
então o aqui e o agora passam a ser apenas um sopro do ali
hora última em que os seres já velhos deixam seus corpos
e assumem ofícios de escafandristas exploradores de mares internos
aqui, acolá, além mundos pouco importa
Temos de estar atentos, quietos por dentro e em movimento externo
Perseguindo uma outra intensidade e dimensão
talvez aquela comunhão mais profunda sem matéria, tempo e espaço
o pré-nada, a anti-matéria
Não, não há razão para calafrios
Mas equilíbrio no fio tenso
desespero, não, vertigem sim:
no fim pode estar o começo.
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Gilberto Motta é escritor e pesquisador de mundos e palavras e imagens. Vive numa pequena vila de pescadores na Guarda do Embaú SC.
