Cheguei à casa da minha irmã, ela estava desesperada, pois a bebê dela foi brutalmente agredida.
À primeira vista, parecia que ela tinha sofrido uma agressão com uma tesoura. Eu examinei e falei que foi feito por alguém com pouca intimidade com tesoura, pois estavam com cortes picotados e com muitas irregularidades. Estava com os braços e as pernas quase decepados e um ferimento enorme logo abaixo do pescoço.
Liguei para o hospital para disponibilizar um leito infantil (berço), na UTI, faria os exames lá, pois a bebê já estava desmaiada e nada a fazia voltar. Minha irmã seguiu direto para delegacia a fim de registrar o boletim de ocorrência. Pedi urgência, pois não poderia fazer nada, antes do exame da polícia científica.
Os policiais agiram em tempo recorde. Foram na UTI e realizaram o exame, chegando à conclusão de que a bebê não tinha sofrido nenhuma agressão, pois a sua pele tem aquela fragilidade, que simplesmente ao pegá-la, a pele rasga literalmente como um tecido. No manuseá-la, ainda mais sem jeito, como os sobrinhos, muito crianças, que ficavam brincando com essa bebê e a levavam pra cima e pra baixo.
Imediatamente após o exame, com autorização do perito, comecei a cirurgia. A cirurgia, não, pois tinha de ser feita muitas e em etapas. Os frágeis músculos já estavam esponjando, tendo de ser feito enxertos nos braços e nas pernas.
Depois de todos os enxertos feitos, nos membros e no colo, fiz transplante de pele no corpo inteiro. Lógico, que isso tudo foi feito, discutido com minha equipe, outros cirurgiões pediátricos e todo o restante do corpo cirúrgico. Tudo medido, conversado, discutido. Afinal, tratava-se de uma bebê.
Foram feitos os transplantes de pele, pedaço a pedaço, como disse, muito minucioso, uma verdadeira costura de pedaços de tecidos. Foi muito difícil, pois tínhamos de mudar a posição da bebê, a cada cirurgia, até de cabeça pra baixo, em alguns momentos, precisou ficar. Mas o final foi feliz, apesar de ter tido que refazer o transplante de pele na coxinha esquerda, o enxerto deu rejeição.
Tivemos de tirar a pele transplantada e colocar outro pedaço. Ainda bem que o banco de pele é muito bem servido. Há peles de sobra. Nossa sorte!
Depois desse perrengue todo, a bebê está super saudável, sorrindo, comendo, fazendo gracinhas, só com muitas cicatrizes que durarão toda a sua vida.
Minha irmã, que quase morreu no início, voltou a alegria. Foi muito bom pra ela, porque, em março que vem, ela completa setenta anos. Não parece de jeito nenhum, mas ela nasceu em 1956.
Agora, fico a pensar, antigamente, os melhores brinquedos eram desta fábrica, inclusive, a primeira boneca mais parecida com bebê humano Meu Bebê. Esta fábrica que tem o nome de uma coisa que todo mundo gosta, que sempre está em céu claro, todas as noites, sempre prezou pela qualidade, mas, hoje em dia, não é assim.
Este Meu Bebê, da minha irmã, tinha o corpinho feito com TNT (Tecido que não é tecido), que se desfaz com o tempo. Foi isso que aconteceu, o TNT estava se desfazendo e, como a boneca só ficava vestida, ninguém via.
Minha irmã a achou muito molinha e, quando foi trocar-lhe o vestido, deparou com essa surpresa desagradável, fazendo-a chorar, achando que alguém tinha cortado a boneca.
Acabou tudo bem. Agora a bebê está nova em folha, porém cheia de cicatrizes.
