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Colapso de Roma serve de alerta para quem se vê imperador do mundo

Nenhum trovão anunciou o fim. Roma, que um dia falara em nome dos deuses e dominara o mundo sob sua bênção, caiu em silêncio. As colunas dos templos racharam, as estátuas foram mutiladas e os sacerdotes desapareceram. Era como se as divindades que ergueram o Império tivessem voltado o rosto — ou simplesmente se calado para sempre.

Durante séculos, Roma viveu na crença de que sua glória era reflexo da vontade divina. Marte guiava seus exércitos, Júpiter protegia seus imperadores e Vênus inspirava a beleza e a sedução que moviam o povo romano. Mas, quando as legiões começaram a sucumbir e os bárbaros cruzaram as fronteiras, os altares ficaram frios. Nenhum sacrifício parecia suficiente. Nenhum oráculo respondia.

“Os deuses não nos abandonaram — fomos nós que esquecemos o idioma com que se fala ao céu”, teria escrito um filósofo anônimo pouco antes da queda de Roma.

O silêncio dos deuses não foi apenas o fim de uma religião, mas o fim de uma ligação espiritual entre homem e cosmos. As divindades que um dia gritavam nas tempestades e se manifestavam nas vitórias militares tornaram-se estátuas quebradas, soterradas pela poeira das eras. Roma, sem seus deuses, tornou-se apenas pedra e história.

As ruínas que hoje encantam viajantes foram, um dia, templos vivos de fé e temor. As colunas que restam sustentam o peso da ausência — e o pôr do sol sobre o Fórum Romano parece um lamento de mármore. O silêncio que paira entre aquelas ruínas é o mesmo que habita as almas que já não creem em nada além do próprio poder.

Os deuses se calaram, talvez não por desprezo, mas por cansaço. Assistiram à arrogância humana transformar templos em palácios, e preces em decretos. Quando o império ruiu, nada mais restava a dizer.

Para refletir
Toda civilização que se julga eterna acaba ouvindo o mesmo silêncio. O colapso de Roma foi o eco de uma soberba espiritual — a crença de que os deuses estariam sempre a serviço dos homens. Hoje, em meio a impérios modernos, tecnologias e novos altares, talvez o silêncio continue o mesmo. Só muda o nome dos deuses e o material dos templos.

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