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Com desculpa estapafúrdia, Sóstenes Cavalcante acha que somos idiotas

A Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos deputados federais Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy, ambos do PL do Rio de Janeiro. A operação foi determinada pelo ministro Flávio Dino e investiga suspeitas de desvio de cota parlamentar. Não é detalhe: além de deputado, Sóstenes é pastor da Assembleia de Deus e líder do PL na Câmara. Ou seja, alguém que ocupa espaços de poder político e simbólico.

O dado mais chocante veio logo depois: a PF apreendeu cerca de R$ 430 mil em dinheiro vivo em endereço de Sóstenes. Dinheiro em espécie, guardado como se estivéssemos falando de outra época. Diante da repercussão, o deputado gravou um vídeo para se justificar. Disse que o dinheiro era lícito, fruto da venda de um imóvel, e que não havia depositado por um “lapso”.

O que ele quer nos convencer é ainda mais surreal: que aguardou R$ 430 mil em dinheiro dentro de um guarda-roupa. Tudo isso em uma época em que a maioria das pessoas não compra nem chiclete com dinheiro vivo. Pix, cartão, aproximação, transferência instantânea. O mundo mudou, menos o roteiro dessas explicações mal-ajambradas, que subestimam a inteligência coletiva.

Para completar o enredo, veio a explicação ainda mais ofensiva à inteligência alheia: o motorista do deputado, com salário declarado de R$ 4 mil, teria movimentado R$ 11 milhões. Mas não se preocupem, segundo a versão apresentada, além de motorista, ele também seria um empresário de sucesso. Pronto. Tudo explicado. Ou melhor, tudo escancarado.

O vídeo gravado por Sóstenes é, por si só, constrangedor. Causa vergonha alheia assistir. O tom, a naturalidade com que se apresentam justificativas frágeis, o cinismo explícito de quem acredita que basta ligar a câmera para transformar o absurdo em algo aceitável. Não cola. Não convence. E ofende quem ainda leva a sério a ideia de ética pública.

Pastor, os mentirosos não herdarão o Reino dos Céus. E os corruptos também ficarão de fora.

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