No meu tempo solitário,
quando o mundo se move sem mim,
descubro que o silêncio
não é vazio,
mas um campo onde brotam pensamentos
como flores esquecidas na sombra.
Aqui, onde ninguém me observa,
sou inteira sem testemunhas,
sou brisa e tempestade,
memória e sonho,
uma história que se escreve
sem precisar de olhos que a leiam.
Os passos que antes ecoavam lá fora
agora dançam dentro de mim,
trilhando corredores secretos,
onde cada lembrança pulsa viva
como estrelas que só brilham no escuro.
No meu tempo solitário,
não me falta amor,
pois aprendi a me abraçar sem medo,
a acolher minhas cicatrizes
como versos de uma canção antiga
que ainda sabe ser bela.
Parei de pedir respostas ao mundo,
pois há mistérios que só se desvendam
nas conversas mudas entre coração e alma,
no sussurro das certezas que nascem
quando tudo ao redor se aquieta.
Aqui, sem máscaras,
descubro-me livre,
nomeio-me pelo que sou,
não pelo que esperam de mim.
E nessa entrega,
sou pássaro sem gaiola,
vento sem destino.
Às vezes a tristeza bate à porta,
mas já não temo sua visita.
Ofereço-lhe um assento,
sirvo-lhe um chá,
e digo: “Fique o tempo que precisar,
mas lembre-se: sou dona desta casa.”
Pois aprendi a sorrir no silêncio,
a me erguer sem aplausos,
a ser forte sem testemunhas,
a cair sem medo do chão,
porque sei que sempre me levanto.
No meu tempo solitário,
sou refúgio e tempestade,
pergunta e resposta,
ferida e cura.
E se um dia alguém bater à porta,
não virá para preencher um vazio,
mas para caminhar comigo
por este jardim já semeado de paz.
