Ideologia política é como carnaval: as fantasias brilham por instantes, mas logo se perdem na poeira dos dias, e as máscaras, inevitavelmente, caem. Já o governo — entendido como braço operativo do Estado — precisa resistir às modas passageiras e ao ruído das disputas eleitorais, sustentando ações que dialogam com os anseios permanentes da sociedade. Mudam-se os ocupantes das cadeiras, mas as políticas públicas que dão certo não deveriam nunca desaparecer.
É nessa lógica que o governo Ibaneis Rocha (MDB) vem conduzindo uma das agendas sociais mais robustas dos últimos anos no Distrito Federal. Trata-se da expansão das creches públicas, inspirada no espírito dos antigos Cieps de Leonel Brizola — aqueles prédios que defendiam, desde os anos 1980, o mantra visionário de que “lugar de criança é na escola”.
No quadradinho que abriga a capital do país, essa ideia deixa de ser slogan e se converte em realidade concreta, principalmente para a faixa etária mais delicada, de 1 a 3 anos. É nelas, nas creches públicas, que mães trabalhadoras depositam não apenas seus filhos, mas também sua esperança de dignidade e autonomia.
Ao chegar ao Palácio do Buriti, há sete anos, Ibaneis encontrou amplas regiões onde havia apenas terreno baldio, capim alto e estatísticas alarmantes. À época, cerca de 23 mil bebês estavam fora das creches, impedindo suas mães de buscar emprego, concluir estudos ou retomar a vida profissional.
Sete anos depois, o cenário mudou. Onde antes havia mato, hoje surgem prédios claros, seguros, equipados — 27 no total, em pleno funcionamento. O número de crianças sem vaga caiu drasticamente para pouco mais de 1 mil 200. E o cronograma já está traçado. É que no início de 2026, com a abertura de mais oito unidades, o mapa dos “sem creche” deve finalmente chegar a zero.
A vida que pulsa dentro de uma creche é quase invisível para quem passa na rua, mas transforma tudo em quem vive por dentro. Ali as crianças recebem quatro refeições diárias, aprendem a sociabilizar, ganhar autonomia, brincar, reconhecer cores, sabores, sons e limites. É lá que elas dançam, engatinham, fazem amigos, apontam para o sol com a inocência de quem está descobrindo o mundo.
E no fim da tarde, quando retornam para casa de banho tomado, há mães que respiram aliviadas, com a alma leve, porque sabem que seus filhos foram cuidados, estimulados e protegidos. É um gesto pequeno aos olhos de quem governa, mas gigantesco para quem precisa.
Há, como se vê, políticas que inauguram obras; outras inauguram futuros. As creches fazem parte desse segundo grupo.
Não se trata apenas de tijolo e tinta, mas de um investimento na formação cidadã que começa antes mesmo do primeiro passo. Uma criança bem acolhida, nutrida e estimulada na primeira infância tem mais chances de se tornar adulto seguro, produtivo e consciente.
É a cidadania começando no berço — ou, mais precisamente, no tapete colorido onde o bebê engatinha pela primeira vez.
Esse programa é, também, um legado político. Ibaneis Rocha o entrega à sua vice, Celina Leão (PP), que assumirá o governo com a tarefa — e o desafio — de manter a expansão e aprofundar essa política. A missão dela, caso venha a buscar a reeleição, será mostrar que o Distrito Federal é capaz de cultivar projetos de longo prazo, para além da dança das cadeiras do poder.
A principal bandeira, porém, não é apenas administrativa. Ela é simbólica ao apresentar Brasília como uma cidade onde o povo respira confiança, dignidade e futuro.
Porque quando uma mãe pode trabalhar tranquila, e quando um bebê chega à creche engatinhando e sai dando os primeiros passos — passos que vão ecoar por toda a vida — o Estado cumpre sua função primordial, que é servir ao cidadão desde o início da caminhada.
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José Seabra, diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras, está de passagem por Brasília
