— Você cresceu?
— Crescemos.
É uma pena. É horrível ser adulto.
Descobrimos que crescer não era sobre liberdade, e sim sobre contas, despedidas e responsabilidades que nunca acabam.
Acreditávamos que o tempo nos daria respostas, mas ele apenas nos ensinou a conviver com as perguntas.
A infância nos prometia um futuro onde tudo faria sentido e, no entanto, crescemos para perceber que o sentido é o que a gente inventa, dia após dia, tentando não desabar.
Crescer é entender que as pessoas vão embora, que os laços mudam, que o amor não salva, mas ensina. É perceber que o abraço da mãe não dura pra sempre, e que o espelho, um dia, começa a nos devolver versões que nem sempre reconhecemos.
É dolorido, mas também é bonito porque com o tempo aprendemos que não é preciso entender tudo, basta sentir o que é real.
Crescemos, e agora sabemos que não existe “felizes para sempre”.
Existe cansaço, café requentado, risadas no meio do caos e fé em algo que não dá pra explicar.
Existe a coragem de seguir, mesmo quando o mundo pesa.
E talvez seja isso o verdadeiro crescer:
não se tornar adulto demais, mas continuar terno mesmo depois de ter visto o pior.
Continuar acreditando nas pessoas, mesmo quando o coração já sabe o risco.
Continuar apesar de tudo.
Porque crescemos, sim.
Mas dentro de nós ainda vive a criança que sonha, que chora, que ri alto sem motivo.
E é ela que nos salva, toda vez que o adulto quase desiste.
