noutros tempos
quando o medo da queda-livre invadia a carne dos amores
todos os versos eram bárbaros
o medo de abrir os braços dançava
em altares cheios de velas:
amar era uma religião, vadia, a se temer
e o amor, um mero vestígio a despedaçar-me
hoje,
nenhuma palavra pode ser escrita sem pernoite
nenhum olhar atravessa o campo de batalha sem expandir o resgate
das feridas abertas de que me salvaste
resta apenas a melancolia de tê-las sentido
até que nada mais se pudesse ouvir
apesar de tudo
dentro desse mistério de bondade que enternece os olhos
já não acendo velas quaisquer
amar me é sem febre
uma euforia da tua paciência
em reparar no silêncio
os ângulos da tua mulher
