Poema 2
Os leões da guerra são uma coisa vã.
Carregam a faca cravada no pescoço
e a arma apontada para os infantes perdidos
entre os escombros da morte.
A infância esquecida
entre cães e insetos
num país crucificado pelo horror
das trevas
está diante da face de um abismo.
Poema 5
Noites incendiadas pelos rojões de pólvora
abrem feridas na pele de Gaza.
Do rosto da poesia e da revolução
renasce o ombro do exílio
para escapar do abraço da morte.
Poema 25
Mulheres da Faixa de Gaza
carregam nos potes de barro
os damascos secos e as peras lisas
para as refeições noturnas
mas isso é para quando a trombeta tocar
a canção do cessar fogo.
Poema 34
A noite na cidade é escura,
exceto pelo brilho dos mísseis;
silenciosa, exceto pelo som do bombardeio;
aterradora, exceto pela promessa lenitiva da oração;
tenebrosa, exceto pela luz dos mártires”.
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Mírian Freitas, mineira, é poeta, doutora em Literatura Comparada pela UFF, lecionou em Massachusetts (EUA) e hoje leciona no Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais. Escreveu Intimidade vasculhadas (7Letras/Imprimatur, 2006), Exílios naufrágios e outras passagens (Patuá, 2016), Quase (JustFiction, 2019), Caio Fernando Abreu: Uma poética da alteridade e da identidade (Ensaio Ilustrado/CRV, 2020), Quando éramos pássaros e outros poemas abissais (Penalux, 2021), Mosaico (Sempre-viva editorial, 2022) e Damascos Feridos (Alpendre Literário, 2025)
