A beira é a medida. Quando atingimos o contorno, temos que parar ou extravasar, recuar ou persistir, travar ou prosseguir. Decidir a fuga.
Beiradas nos fazem suicidas. Construímos bordas desejando dominar e aprisionar o conteúdo. Temos paúra dos limites.
Reinventamos margens em busca de mais espaços.
Na verdade, o espaço é sempre o mesmo, o que buscamos é possuí-lo, invadir, ampliar territórios.
Algumas pessoas têm horror às bordas e beiradas. Eu não; meu desafio é alongar paredes já levantadas.
No fundo, somos da província.
Queremos invadir, mas sempre voltar para onde estávamos.
Útero.
Então, eis que as formas se ampliam no finito território da lembrança, do poço sem fundo da liberdade do espaço interno.
O desejo e a pulsão se expandem.
E é o corpo batendo coração e vencendo espaços sem sair do lugar.
As bordas sempre estarão lá. Delimitam os nossos medos.
Retornamos a cada avanço buscando o centro, a mão suave, o gesto puro, a casa, a cama, o quintal, a pele.
Refúgio, abrigo, caminho, transparência e alma.
Vamos, então, replicantes com olhos arregalados tateando a beira/borda do buraco negro a nos desafiar.
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Gilberto Motta, jornalista, escritor, professor aposentado; lá da Guarda do Embaú SC, envia textos repletos de algoritmos/náufragos a serem decodificados.
