Donald Trump, do alto de sua verve para criar listas polêmicas, resolveu colocar Brasília entre as “capitais violentas” do planeta. Usou dados velhos, de 2021, e empurrou ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), a tarefa de responder. E Ibaneis não perdeu a chance de, além de corrigir o americano, dar uma beliscada em Lula.
— Vamos responder de forma educada, mas firme. Quem governa o Distrito Federal sou eu. Aqui, o Lula é só hóspede, e não mexe na minha panela — disse Ibaneis, ao Estadão, com aquele tom de quem mistura planilha de segurança pública com pitadas de provocação política.
A resposta a Trump, segundo ele, trará dados atualizados: em 2023, Brasília registrou taxa de 11 homicídios por 100 mil habitantes, contra quase 40 da capital americana. No Anuário Brasileiro da Segurança Pública, o DF aparece entre as três unidades menos violentas do país, com 8,9 mortes por 100 mil em 2024.
A menção de Trump a Brasília ocorreu durante um pronunciamento sobre a mobilização de tropas da Guarda Nacional para fazer o policiamento Washington, diante dos elevados índices de violência na cidade.
O presidente comparou os números da capital norte-americana com o de outras cidades, como Brasília, Bogotá e Cidade do Panamá, mas cometeu imprecisões, incluindo Washington D.C. Lá os crimes violentos caíram 26% na capital em comparação com o mesmo período de 2024, segundo dados da polícia local.
Lula, por sua vez, não comentou oficialmente a cutucada, mas, segundo auxiliares, teria soltado, de forma atravessada, que “o DF é seguro mesmo… quando não tem gente invadindo prédios públicos”. Ibaneis, ao ser informado, respondeu de bate-pronto que “segurança pública se faz com polícia na rua, não com discurso na varanda do Palácio”.
Enquanto Trump erra os números e Lula e Ibaneis trocam indiretas dignas de uma reunião de condomínio, os dados mostram que Brasília está longe do caos descrito pelo americano. Mas, como todo brasiliense sabe, a capital pode ser pacata nos índices — e barulhenta nas entrelinhas políticas. No mais, uma frase emblemática de Ibaneis: “Sou oposição a Lula”, como quem diz 2026 está chegando rápido pelo retrovisor.
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Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras
