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Deixa de tolice, Armínio. Ou também quer congelar o nosso direito de reclamar?

Armínio Fraga voltou a abrir a boca. E como quase sempre acontece quando gente rica demais resolve dar palpite sobre a vida dos pobres, saiu um delírio: segundo ele, congelar o salário mínimo por seis anos seria… espetacular. Para os pobres. Eu li isso e precisei reler. Achei que era ironia. Mas não, o homem estava falando sério, com aquela autoridade de quem jamais sentiu o peso de uma feira encarecendo ou de uma conta de luz atrasada.

Não posso dizer o que realmente penso sobre a pessoa do senhor Armínio Fraga porque não tenho dinheiro sobrando para pagar um bom advogado. E já que vivemos em um país onde a justiça é cara e a paciência do cidadão comum é testada todos os dias, vou me contentar em comentar apenas a declaração. E, mesmo assim, com muito esforço para manter a compostura.

Dizer que é espetacular congelar o salário mínimo — o mínimo, Armínio! — é de uma imoralidade sem tamanho. É cruel. É criminoso. Num país em que milhões de pessoas ainda vivem com menos do que o necessário para o básico, querer travar o reajuste do pouco que elas ganham é como sugerir que se congele também a comida na mesa, o gás no botijão e o remédio na prateleira.

Esse tipo de proposta só pode vir de quem nunca precisou do salário mínimo para sobreviver. De quem olha para a pobreza com planilha de Excel e fala de fome com talher de prata. Congelar o salário mínimo é condenar milhões à estagnação, é tornar ainda mais insuportável a vida de quem já vive no limite.

Mas claro, deve ser fácil achar isso “espetacular” quando se está bem longe da fila do SUS, do caixa do supermercado, do desespero. É o velho sonho neoliberal: congelar o salário de quem trabalha e descongelar o lucro de quem especula.

E se essa ideia prospera, o que mais vem depois? O congelamento do direito de reclamar? Porque eu, sinceramente, estou fervendo.

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