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Deputados agem como deuses e tentam criar em Brasília seu próprio Olimpo

Na noite de terça-feira, 16, o Plenário da Câmara dos Deputados decidiu se coroar com louros que nem os deuses da Grécia ousariam reivindicar. Aprovada com 353 votos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que dificulta denúncias criminais contra parlamentares abre as portas para transformar o Congresso Nacional em um novo Olimpo — não de mármore, mas de imunidades.

Ali, entre colunas e tapetes, deputados e senadores parecem cada vez menos homens comuns e cada vez mais figuras mitológicas. Vestem-se da toga invisível de Zeus, intocáveis em seus raios de impunidade; invocam o espírito de Atena, mas não pela sabedoria, e sim pela astúcia de se proteger antes de proteger o povo. Até Dionísio faria festa com tamanha desfaçatez: a embriaguez do poder suplanta qualquer compromisso republicano.

Enquanto 134 parlamentares ainda tentaram resistir ao banquete dos deuses, o coro majoritário preferiu erguer taças e selar um pacto de autodefesa. O Olimpo brasiliense, erguido à custa da cidadania, cria para si a aura de eternidade e privilégio.

Resta ao povo, que não tem asas nem raios, olhar para cima e perceber que, a cada nova votação, a distância entre o chão da realidade e os palácios da mitologia cresce. Se no mito os deuses puniam os mortais por ousarem questioná-los, no Brasil contemporâneo os mortais são punidos pela ousadia de acreditar que todos deveriam ser iguais perante a lei.

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Marta Nobre é Editora-Executiva de Notibras

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