O sonho de Sérgio Moro de se tornar governador do Paraná parece cada dia mais distante. Não por acaso. Moro sempre foi uma figura ousada, mas ousada no pior sentido da palavra. Na verdade, o termo mais adequado talvez seja atrevido. Alguém que avançou limites institucionais, éticos e políticos acreditando que jamais teria de prestar contas por isso.
Recentemente, a Polícia Federal revelou oficialmente aquilo que, nos bastidores da política e do Judiciário, já era amplamente comentado: Moro teria gravado de forma ilegal, sem autorização judicial, diversas autoridades com prerrogativa de foro. Não se trataria de um desvio ocasional, mas de uma prática deliberada, com objetivos claros. Segundo as investigações, essas gravações poderiam ser usadas posteriormente como instrumento de pressão ou até de chantagem, conforme os interesses do então juiz, hoje senador.
Essa revelação ajuda a explicar muita coisa. Além de explicar a condenação a jato de Lula no caso armado do triplex, explica também por que nenhum partido relevante demonstra real disposição em apoiá-lo em um projeto majoritário como governador do Paraná. Na política, pode-se até tolerar divergências ideológicas, vaidades e disputas internas. O que não se tolera é a imprevisibilidade moral. E Moro passou a ser visto exatamente assim: alguém em quem não se pode confiar.
Confiança e lealdade são atributos centrais na política. Governar exige pactos, alianças, diálogo e respeito mútuo. Ninguém se associa de bom grado a quem carrega a fama de gravar aliados, adversários e autoridades para uso futuro. Esse tipo de comportamento contamina qualquer projeto político antes mesmo de ele nascer.
Sérgio Moro apostou que o capital simbólico da Lava Jato seria eterno e suficiente para sustentá-lo em qualquer disputa. Não foi. O tempo passou, os fatos vieram à tona, e a aura de “herói” se dissolveu diante de práticas que contradizem frontalmente o discurso moralista que ele próprio ajudou a construir.
Hoje, isolado politicamente e cercado de desconfiança, Moro colhe os frutos de suas escolhas. Seu sonho de governar o Paraná não esbarra apenas em adversários eleitorais, mas em algo muito mais difícil de superar: a perda de credibilidade. E, na política, quando a confiança se perde, dificilmente se reconstrói.
