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Dilma, de gerente durona para os beijinhos e abraços para o eleitor

Em 2010 Dila Rousseff foi eleita presidente sob a marca de gestora competente, uma imagem que ficou bastante desgastada no decorrer do mandato, principalmente pelo fraco desempenho econômico.

À época, a fama de gestora e técnica eficiente, construída ao longo dos anos no ministério de Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro como titular da pasta de Minas e Energia e depois como ministra-chefe da Casa Civil, serviu para catapultá-la à Presidência, sem nunca antes ter disputado uma eleição.

Hoje, a presidente é retratada, até por aliados, como uma gestora muito apegada a detalhes, que dialoga pouco, que intervém exageradamente na economia e que agiu de forma inábil politicamente para fazer sua enorme base aliada aprovar as reformas necessárias ao país.

Na disputa atual, a candidata tenta se apresentar como a presidente que merece mais quatro anos para manter e aprofundar o modelo petista, deixando um pouco de lado a faceta de gestora que lhe garantiu a vitória em 2010 e tentando provar que aquele perfil de durona e intransigente ficou mais suave desde 2010.

Um dos estrategistas da campanha atual acredita que Dilma aprendeu alguma lições nesses quase quatro anos na Presidência. “No fundo, ela está mais madura”, disse à Reuters sob condição de anonimato.

Um ministro do governo avalia que Dilma, de 66 anos, já mudou e isso ocorreu depois das manifestações de junho de 2103, quando milhares de pessoas foram às ruas para protestar principalmente contra a qualidade dos serviços públicos.

À época, Dilma perdeu parte da força quando sua popularidade despencou de um pico de 65% de avaliação de ótimo e bom do governo –registrado pelo Datafolha em março de 2013– para 30% após as manifestações. O alto índice de aprovação havia dado força política a Dilma, mas também a tinha isolado das críticas e conselhos.

“Ali a presidente entendeu que precisava se abrir, dialogar mais com os políticos, com os movimentos sociais”, disse o ministro, sob a condição de anonimato.

No seu entorno, porém, nem todos acreditam que o mandato serviu de experiência para Dilma a ponto de transformá-la numa presidente menos obcecada por detalhes e intransigente politicamente.

“O que existe na verdade é uma torcida para que ela tenha aprendido com os erros. A campanha eleitoral está sendo uma grande lição para ela, para o governo e para o PT”, disse à Reuters uma pessoa que esteve perto de Dilma na campanha de 2010.

Um exemplo recente mostra a resistência da presidente para fazer correções de rota. Dilma já vinha sendo aconselhada por aliados há meses a sinalizar que num novo mandato faria mudanças, reconhecendo que o governo não acertou em tudo, e que indicasse que trocaria a equipe econômica, cuja credibilidade junto ao mercado havia sido abalada. Mesmo diante desses apelos, Dilma resistia a qualquer inflexão.

Somente depois de uma conversa franca com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu tutor político, ela passou a dizer que faria mudanças na economia se reeleita.

“Foi preciso dizer a ela que teria que escolher entre o ministro da Fazenda (Guido Mantega) e a reeleição”, contou à Reuters um aliado, referindo-se à conversa com Lula.

Mesmo que tenha suavizado sua postura nos últimos meses, Dilma criou entre aliados e mesmo entre petistas e escalões inferiores do governo um clima inóspito.

Esse aliado que contou sobre a conversa com Lula faz um diagnóstico crítico do resultado de tanta intransigência da presidente.

“Ao longo dos anos ela dinamitou pontes com setores econômicos, partidos aliados e inclusive com o PT. Se for reeleita terá que reconstruir essas pontes e num ambiente político mais hostil, com desconfiança”, disse.

Jeferson Ribeiro, Reuters

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