E se você tivesse vivido durante o tempo da ditadura militar? Talvez não estivesse vivo para contar história… Talvez você, que vive defendendo que os livros de história fossem reescritos para satisfazer a vontade de um déspota, que vive reclamando que estão “censurando” a extrema-direita, tivesse aprendido cedo demais o que é realmente ter uma opinião transformada em alvo, pergunta em ameaça, e que pensar alto poderia significar silêncio eterno. Talvez tivesse sentido na pele o peso de uma noite que nunca terminava, onde vizinhos desapareciam sem explicação e o medo fazia parte do ar que se respirava.
Talvez tivesse descoberto que coragem, naquela época, não era gritar, era sussurrar, era escrever com metáforas para escapar dos olhos que tudo vigiavam, era esconder livros como quem esconde tesouros proibidos. Talvez tivesse entendido a importância daquele livro, que hoje você vive dizendo que é “doutrinador”. Talvez tivesse entendido que liberdade não era um direito e que, a qualquer momento, você poderia desaparecer.
E é por isso que hoje, com toda a lembrança ainda viva nas cicatrizes do país, soa tão revoltante ver gente flertando novamente com a sombra daquele passado. Quem realmente viveu aquilo sabe que não é nostalgia, não é ordem, não é patriotismo. É Silenciamento. E silêncio é sempre o primeiro passo para repetir. Histórias não somem sozinhas, são empurradas para o buraco por quem teme a verdade. E exatamente por isso precisamos lembrar, denunciar e falar, mesmo quando tentam nos calar. Porque memória é resistência, e resistência é o que impede que a escuridão de ontem volte a se tornar o nosso amanhã.
