Notibras

Do Luto à Luta

O luto não é uma doença, mas negá-lo pode adoecer. Estudos mostram que até 40% das depressões têm origem em perdas não elaboradas. Ainda assim, vivemos em uma sociedade que pressiona: “já passou da hora de superar”, “a vida continua”. Quantas vezes você já ouviu isso quando estava imerso em dor? Essa pressão silenciosa é uma das maiores violências emocionais que cometemos contra nós mesmos.

O luto não é apenas sobre a morte de alguém. Ele aparece quando um relacionamento termina, quando um emprego ou estabilidade financeira desaparece, quando a saúde ou mobilidade se vai, ou em perdas invisíveis, como a perda de uma criança ainda no ventre. Uma vida que ninguém conheceu, mas que era parte de nós. Um pedaço da nossa alma que se foi, e que, para muitos, parecia que deveríamos superar rapidamente. O luto não tem cronograma, e cada história pede seu próprio ritmo.

O luto vem em ondas. Alguns dias você consegue lembrar e sorrir; em outros, a saudade aperta o peito e parece impossível respirar. Muitas vezes, ele vem acompanhado de culpa. Quando você percebe que está conseguindo seguir em frente, surge a sensação de que está “traindo” a memória de quem se foi. Inconscientemente, pensamos que precisamos sofrer para provar amor. Isso não é verdade. O amor não se mede pela dor constante.

Como cuidar de uma ferida que não pode ser apressada? Algumas práticas podem ajudar:

 Dê tempo ao tempo. O luto não tem prazo. Cada perda pede seu próprio ritmo.

 Permita-se sentir. Chore, escreva, fale. Nomear a dor ajuda a organizar o caos interno. “Estou triste”, “Estou com raiva”, “Sinto falta”. Palavras simples que aliviam.

 Crie rituais que honrem o amor. Acender uma vela, visitar um lugar especial, ouvir uma música que conforta. Não é cultuar a dor, mas permitir que o amor que ficou seja lembrado.

 Movimente-se. Caminhar, respirar profundamente, sentir o corpo. Pequenos gestos ajudam a conectar-se ao presente sem fugir da dor.

O luto não é sobre esquecer. É sobre aprender a viver de um jeito novo, carregando a memória e o amor dentro de você. É aceitar que a saudade vem em ondas, que a culpa pode surgir e que seguir em frente não significa trair quem se foi.

Que tal hoje, se a saudade bater, não fugir? Sente com ela por um momento, respire fundo, lembre-se de algo bom. A vida continua, sim, mas ela continua com a nossa história inteira dentro da gente, incluindo os amores que ficaram para trás, visíveis ou invisíveis.

Se sentir que está demais, busque ajuda. Isso é um ato de coragem, não de fraqueza.

…………………..

Marina Dutra – Terapeuta Integrativa
Instagram: @sersuperconsciente
E-mail: sersuperconsciente@gmail.com

Sair da versão mobile