Notibras

Do meu corpo, dei abrigo

Do meu corpo, dei abrigo.
Da minha alma, dei descanso.
Segurei tua dor no colo,
como quem embala um filho.

Acreditei no “para sempre”
quando me olhavas nos olhos.
Não vi que ao meu lado
tu já cultivavas outra estação.

Ela é nova, fresca,
pele intacta de promessa.
E eu — mãe, mais velha,
carrego marcas que o amor deixou.

Descartada como flor madura,
tropeço em mim mesma:
fui jardim inteiro,
e me trocaste por uma semente.

Não é apenas ciúme,
é a ferida de perceber
que o tempo em mim pesa,
e em ti, não coube.

Mas sigo, mesmo ferida.
Não por ti, que partiste,
mas por mim, que aprendo
que doar-se demais
é, às vezes, um jeito de morrer em vida.

Sair da versão mobile