Minhas melhores lembranças, os momentos mais especiais que vivi, não estão em álbuns, caixas ou gavetas. Estão apenas na minha memória. Carrego dentro de mim os lugares onde já estive, as pessoas que amei, as conversas que me marcaram. Às vezes penso que isso basta: recordar é o suficiente para manter viva a essência do que passou.
Mas eu acho muito bonito quem guarda objetos e, por meio deles, mantém acesas as histórias da vida. Minha irmã é uma dessas pessoas. Ela guarda cartas antigas, pequenas lembranças de viagens, lembrancinhas de festas, objetos que, para ela, são como cápsulas do tempo, cheias de significado. Ao olhar para uma caixa, um colar ou mesmo uma folha seca, ela é imediatamente transportada de volta ao momento em que aquilo entrou em sua vida.
Gosto de observar esse gesto dela, quase ritualístico, de abrir uma caixa e se reencontrar com o passado. Uma fotografia amarelada pelo tempo não mostra só rostos; mostra também o instante exato em que a vida decidiu congelar um sorriso, um gesto, um encontro. E é bonito perceber que, de alguma forma, aquele pedaço de papel continua sustentando emoções que poderiam ter se perdido.
No fundo, não guardamos objetos pela utilidade prática. Guardamos porque eles se tornam extensão da memória, como se fossem pontes secretas que ligam o que já fomos ao que ainda somos. Eu sigo confiando na minha lembrança como única guardiã das minhas histórias, mas admiro a delicadeza de quem transforma objetos em relicários. Talvez, quem sabe, um dia eu aprenda também a deixar que o passado descanse em algo que se pode tocar.
