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Dor e delícia de ver quem amamos envelhecerem

É doloroso ver os pais envelhecerem. É como se a vida, de repente, me lembrasse que o tempo não é infinito, que ele escorre por entre os dedos sem pedir licença. Aos meus olhos de criança, meu pai era invencível. Forte, sábio, um herói silencioso que sempre sabia o que fazer. Hoje, vejo-o caminhar devagar, às vezes esquecer o que acabou de falar, e meu coração se aperta. Não é fácil aceitar que o tempo, implacável, também o alcançou.

E então eu me pego fazendo contas que não queria fazer. Se meu pai tem 83 anos, quantos anos ainda teremos juntos? Cinco? Dez, se a sorte sorrir para nós? É um pensamento que dói, uma ferida invisível que a gente tenta esconder, mas que pulsa em silêncio. A verdade é que nunca estamos prontos para imaginar a vida sem aqueles que nos ensinaram a viver.

Mas, às vezes, penso na minha avó materna. Nunca a conheci. Ela partiu cedo demais, antes mesmo de eu nascer. Cresci ouvindo histórias sobre ela, ouvindo dizer que somos fisicamente parecidas. Como eu gostaria de ter tido a chance de olhar nos olhos dela, de segurar sua mão, de saber como era seu riso. E é quando penso nela que percebo: envelhecer é um privilégio. Ver as pessoas que amamos envelhecerem, mesmo que isso venha acompanhado de fragilidade, é um presente que nem todos recebem.

Talvez o que nos falte seja serenidade. Talvez a vida esteja nos pedindo mais calma, mais aceitação para assistir, com amor, o ciclo natural acontecer. Talvez a gente precise se fortalecer aos poucos, para que, quando a hora inevitável chegar, não seja só dor, mas também gratidão por termos caminhado juntos por tanto tempo. Porque, no fim das contas, ver alguém envelhecer é também ver o amor resistir ao tempo.

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