Nas últimas semanas, fiz mais check-in em consultório médico do que em cafeteria. E olha que eu gosto de café.
Desde que enfrentei um câncer de mama em 2022, virei cliente fidelíssima do mastologista e do oncologista. Duas visitas por ano, sem falta. Sou praticamente da casa.
Mas por mais que a gente já tenha passado pelo pior, fazer exame continua sendo um drama. É o tipo de coisa que faz o coração acelerar, o sono fugir e a imaginação criar roteiros de tragédia nível novela das nove.
Aliás, tenho certeza de que meu mapa astral tem alguma coisa em Câncer e outra em Leão. Só isso explica tanto sentimentalismo com uma pitada de teatro. Eu sou a própria mistura de choro antecipado com monólogo no espelho.
Porque, veja bem: a gente que já esteve doente não fica tranquila. A gente entra na clínica com cara de quem vai resolver a vida, mas por dentro está como? Desesperada. Eu, por exemplo, começo a imaginar todos os possíveis resultados catastróficos antes mesmo do técnico que está fazendo a mamografia dizer “pode respirar”. Sou igual peru: morro de véspera.
E o pior é que a gente tenta bancar a racional: “não, vai dar tudo certo”, “é só rotina”, “exame preventivo é autocuidado”, blá blá blá. Mas aí vem o silêncio da espera, aquele intervalo entre fazer o exame e pegar o resultado… e pronto. Já estou ensaiando meu discurso dramático, escolhendo músicas tristes pra trilha sonora e pensando se deixei os boletos organizados.
E então… vem o alívio: está tudo bem. Os exames estão ótimos. Tudo dentro do esperado. Nada novo, nada preocupante. E a gente ri. Ri porque sofreu à toa. Porque o drama não se confirmou. Porque viver, mesmo com medo, é também rir de si mesma.
Enfim, sigo firme. Saudável, monitorada, rindo (e um tantinho dramática). No fim das contas, é isso que me mantém realmente viva: a capacidade de fazer piada até com o susto.
