Antigamente eu tinha muita dificuldade em comemorar qualquer coisa. Sempre que algo bom acontecia, eu sentia um medo quase supersticioso de que, ao celebrar, algo ruim fosse acontecer em seguida, como se a felicidade viesse sempre acompanhada de uma conta alta a ser paga. Por isso, preferia não comemorar. Era uma maneira de me proteger, ou ao menos eu achava que era.
Esse comportamento me acompanhou por toda a adolescência e boa parte da vida adulta. Hoje olho pra trás e sinto uma certa tristeza ao perceber quantos marcos importantes deixei passar em silêncio: quando passei no vestibular, quando me formei, quando consegui meu primeiro emprego, quando me casei… Todos esses momentos mereciam ao menos um brinde, um abraço apertado, uma risada ao lado de quem eu amo.
Mas houve um fato que mudou completamente essa forma de encarar a vida: quando eu tive câncer, três anos atrás. Nada, absolutamente nada, é mais eficiente para colocar a vida em perspectiva do que uma doença grave. Quando se tem câncer, a gente se dá conta de um jeito muito concreto de que a vida é curta, de que somos frágeis e de que não temos controle total sobre o próprio corpo. É um choque de realidade. De repente, o tempo deixa de ser algo abstrato e passa a ter outro peso, outra urgência.
Depois dessa experiência, eu decidi que queria comemorar tudo. Tudo mesmo. O elogio que recebo no trabalho, um resultado bom de exame, um reencontro com a família, um fim de semana de sol, um jantar tranquilo, um riso compartilhado. A alegria deixou de ser um evento extraordinário para se tornar um modo de estar no mundo.
A vida é curta demais para ser adiada. Não quero mais esperar grandes conquistas para brindar. Quero celebrar o simples, o cotidiano, o agora. Porque aprendi da maneira mais dura que adiar a alegria é o mesmo que desperdiçar a vida.
