E lá no fundo o silêncio esperando o momento infinito do não-som. A hora do cão, o nada absoluto. (De onde vem o silêncio? – Gilberto Motta)
Vieram os sonhos. (Corpo a corpo, Gilberto Motta) Antes do verbo o ruído. […] Das bocas dentadas com implantes, as palavras desbocadas.
Faces falsas de botox e articulações medonhas de infortúnios e cortes. (De onde vem o silêncio? – Gilberto Motta)
Som profundo. Barulho surdo de mecanismos internos e inconscientes. Máquina alquímica instigando neurônios em profusão. O som do silêncio é desafiador. Mas qual é o nascedouro? A origem do buraco sem fundo do calar e ouvir? […] (De onde vem o silêncio? – Gilberto Motta).
E no chão dormia, o pequeno alfarrábio. Feito de escritas e sonhos. A espera do enredo. O complemento de tudo. Aquilo que não está explícito. No jogo breve de signos. Nas entrelinhas dos traços. Feito de palavras e sons. Breves riscos e zumbidos. O meu poema solitário implora por novos sentidos. […] De repente a estante fria, incendeia a livraria.
Feito jegue de cigano vagabundeia o poema. À espera de um humano. Pra tirá-lo da canseira dos terríveis desenganos. […] Despencando a ribanceira [… ] Praticum, Aha, Bumbum. As letras parecem doidas. Insistem nos sobre tons das memórias das antigas, inventando futuros sons. Passaram muitos leitores. E eu fiquei abandonado. Poema besta, sozinho. Sem métrica e de pé quebrado. Melhor dormir na estante de meu sonho abortado. […] (Dialógico – Gilberto Motta)
[…] dia, você acordou respirando […], num planeta que não era o seu. […] Tentou levantar, mas suas pernas não responderam. Tudo parecia
parado. Havia areia por toda parte. Finalmente conseguiu levantar e […] (Conserta-se disco voador – Gilberto Motta)
“A Caminhonete da Sucata está passando pela sua rua…compramos bagulhos velhos, fogão velho, geladeira velha, sogra velha, rancores velhos, ideias velhas…”. Os sons estão por toda parte. O anti silêncio é assustador. Poluição capaz de anestesiar corações e mentes. Ouvidos
desenfreadamente dementes. (De onde vem o silêncio? Gilberto Motta).
Passa o carro da PM e aquela música-chiclete martela sua cabeça, “seu guarda eu não sou vagabundo, não sou delinquente…eu dormi na praça…” Então, você sai andando “Easy Rider”, sob o sol e as bancas de revistas, e entra no botequim mais estranho que já viu. Parece uma casa comum, mas na fachada está escrito em cima: “Consertamos discos voadores”. (Conserta-se disco voador – Gilberto Motta)
REFERÊNCIAS
Corpo a corpo
De onde vem o silêncio? –
Conserta-se disco voador –
d’Além África pra cá, num mundo que gira em torno de palavras
Dialógico
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Edna Domenica nasceu, cresceu, estudou, trabalhou e se aposentou em São Paulo – SP. Bacharel em Letras, Psicologia e Pedagogia; especialista em Psicodrama e em Atenção à saúde da pessoa idosa, mestre em Educação e Comunicação. desenvolveu pesquisa sobre as aplicações do Psicodrama em oficinas de escrita criativa, parcialmente publicadas em Aquecendo a produção na sala de aula (Nativa, 2001) e de Relógios de Memórias – cartas de uma artesã da escrita (Postmix, 2017). É autora de poemas: Cora, coração (Nova Letra, 2011) e de ficção em prosa: A volta do contador de histórias (Nova Letra, 2011), No ano do dragão (Postmix, 2012), De que são feitas as histórias (Postmix, 2014), As Marias de San Gennaro (Insular, 2019), O Setênio (Tão Livros Editora, 2024). Participou de várias coletâneas das quais ressalta as que comparece como organizadora: Tudo poderia ser diferente, inclusive o título (Amazon e-book, 2022) e Do corpo ao corpus (Rocha Soluções Gráficas, 2022).
Gilberto Motta nasceu e cresceu em um pequeno circo-teatro no interior de São Paulo. Formou-se em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e foi repórter de rádio e TV, escritor e professor universitário. É professor-mestre e aprendiz da vida. Rodou mundos e, aposentado, vive em 2025, numa cabana que fica numa pequena pousada na Guarda do Embaú, SC. Publicou vários textos nas coletâneas: Tudo poderia ser diferente, inclusive o título (Amazon e-book, 2022) e Do corpo ao corpus (Rocha Soluções Gráficas, 2022).
