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Ela sentia-se pesada e desgraciosa como uma lagarta

Não se muda para o que se quer, e sim para o que se pode.

Ela sentia-se pesada e desgraciosa como uma lagarta. Via da janela a vida passar, e era incapaz de acompanhá-la.

Então recolheu-se ao casulo – de sua casa e de sua própria pessoa. E ficou ruminando, pesando os prós e contras de sua personalidade, ansiando pela transformação. “Ah, deuses, que não demore muito”, repetia sempre.

Certo dia, aconteceu. Ela assumiu o ser que havia em seu interior. Viu sua personalidade de sempre, seu comportamento, seu estilo de vida, cair a seus pés como uma casca dilacerada. Sentia-se esguia e graciosa. E, admitia, também perigosa.

Não saiu borboleteando, pois se tornar uma linda e frágil borboleta não era a metamorfose que lhe cabia. Foi como se escorregasse pelo solo, silvando, cobra venenosa a espalhar peçonha por toda a redondeza. Pois essa era a sua essência, e ela nunca mais se reprimiria, se arrependeria de desejar a infelicidade alheia. Era má, e conviveria com isso. Bastava para ela ser (in)feliz até o fim de seus dias.

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