Há um ditado popular bastante conhecido que diz “quem desdenha quer comprar”, o que pode ser lido como o desejo de ter alguma coisa que se considera difícil de conseguir, mas que é o íntimo desejo de quem faz pouco daquilo. Assim se pode interpretar as declarações de Tarcísio de Freitas sobre não querer disputar a eleição para a presidência da república.
Provavelmente todo político que entra na institucionalidade eleitoral almeja o maior cargo eletivo do país, a presidência. Porém, considerando todas as dificuldades inerentes a uma disputa desta envergadura, poucos são os que levam este desejo até o limite, pois a maioria dos que almejam conhece seus limites.
No Brasil, desde a redemocratização as eleições presidenciais foram marcadas por polarizações no segundo turno entre uma candidatura progressista e outra conservadora. No campo progressista a presença de Lula e sua estatura política até hoje impediu o surgimento de outro nome com viabilidade, exceção à eleição de 2018 em que Lula foi impedido de participar em face de um processo midiático judicial que se demonstrou completamente indevido e ilegal posteriormente, sendo este espaço ocupado pelo atual ministro da fazenda Fernando Haddad, que com as bençãos de Lula herdou os votos progressistas e apresentou um desempenho surpreendente, alcançando mais de 45% dos votos válidos.
Todas as projeções a partir de pesquisas de opinião voltadas para aferir o desempenho de possíveis candidaturas nas eleições presidenciais de 2026, mais uma vez evidenciam que será uma disputa entre o campo progressista e o campo conservador, estando o presidente Lula consolidado no campo progressista, e do outro lado, de diversos nomes colocados para avaliação, o que obtém o melhor desempenho é Tarcísio de Freitas.
Embora Tarcísio continue com a retórica de que disputará a reeleição no Estado de São Paulo, se movimenta como candidato à presidente, já tendo sido inclusive abençoado pelo mercado financeiro, o maior interessado em ter um governo conservador neoliberal no Brasil, em que pese o mercado ganhar muito dinheiro com Lula em função do crescimento econômico que as políticas públicas de seu governo propiciam. Porém, para o mercado financeiro é uma questão de ter a segurança de que gastos sociais podem ser sacrificados em nome do rentismo que tanto o interessa, e Lula jamais fez e jamais fará este papel.
Com todas as indicações em favor da candidatura de Tarcísio, ele faz questão de publicamente colocar esta possibilidade em dúvida. Tarcísio na verdade quer ser ungido com as bençãos do bolsonarismo, a quem não restará outra alternativa que não seja a de se render a ele para tentar algum respiro. Tarcísio sabe disso e faz a encenação necessária para não parecer interessado, com medo de melindrar a família Bolsonaro. E está louco para disputar, embora saiba ser uma tarefa difícil enfrentar Lula, o que realmente causa temor. Enquadra-se perfeitamente no “quem desdenha quer comprar”.
Outro elemento a corroborar o desejo imenso de Tarcísio em aparecer na urna eletrônica como candidato a presidente em 2026, é o fato de ter um eleitorado consistente naqueles que não votam no PT seja por convicção ideológica, religiosa ou de classe, mesmo se estiver se beneficiando de políticas públicas adotadas pelos governos capitaneados pelo partido. Ter uma votação expressiva deixa um recall importante para a próxima eleição em que quase certamente Lula não estará na disputa.
Ele finge que fala a verdade, eu finjo que acredito. Temos o candidato do retrocesso em 2026.
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Antonio Eustáquio é correspondente de Notibras na Europa
