Notibras

Em meio a ataques hilários, prefiro a sapiência de quem sabe envelhecer sem ódio

É comum que alguém se oponha de forma enérgica ao que eu escrevo, especialmente nas redes sociais. Já me acostumei com isso. A internet é esse grande palco onde todo mundo tem opinião sobre tudo, inclusive sobre quem escreve com opinião demais. Confesso que as ofensas, no geral, não me incomodam. Algumas vezes, inclusive, eu acho graça. Tem crítica que mais parece piada pronta. Respondo com ironia ou simplesmente ignoro.

Mas, admito, há situações que me incomodam, sim. Não pelo conteúdo em si, mas pela forma como algumas pessoas escolhem atacar. Um exemplo são os comentários etaristas; aqueles que tentam me desqualificar por conta da minha idade ou da aparência que ela carrega. Como se o simples fato de não ser mais jovem automaticamente invalidasse tudo o que eu penso, escrevo ou represento. Como se ser “velho” fosse uma ofensa.

Não é.

Velhice não é xingamento. Não é fraqueza, não é atraso, não é desatualização. Ser mais velho é, muitas vezes, ter visto coisas que você nem imagina. É ter atravessado períodos históricos, mudado de opinião algumas vezes e mantido outras com convicção. É ter acumulado vivências, e não só rugas. E isso não deveria jamais ser usado como munição pra desqualificar alguém.

O etarismo, por outro lado, sim, é ofensivo. Porque revela o quanto ainda naturalizamos a ideia de que o valor de uma pessoa está ligado à juventude. Como se sabedoria, potência e criatividade tivessem data de validade. O que me espanta não é que existam comentários assim, isso, infelizmente, ainda é comum. O que me entristece é que muita gente repita esse tipo de discurso sem perceber o quanto ele é violento e limitador.

A verdade é que o tempo passa pra todos. E se tudo correr bem, quem hoje usa a palavra “velho” como insulto, um dia vai entender com o corpo, com a alma e talvez com alguma saudade, que envelhecer é um privilégio. E que não há ofensa alguma em continuar existindo, produzindo e se expressando com o passar dos anos. Ao contrário: é um ato de resistência.

Sair da versão mobile