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Em plena sexta, 13, valeu a pena deixar 2016 acabar

Pedro Antunes

Lua Full, o segundo disco de Juliana Kehl, não merecia ser lançado em 2016. Ou melhor, o duro ano passado não fez por merecer o álbum da cantora paulistana que chega às lojas e nas plataformas de música digital nesta sexta-feira, 13. Há, nas 11 músicas e em seus 44 minutos, um otimismo tão florido que, caso surgisse em 2016, essa sensação seria submetida a um cinismo cinza e, corrompido, o disco passaria despercebido.

Fez bem, Juliana, ao deixar o lançamento para mais tarde. Lua Full estava pronto desde a segunda metade do segundo semestre do ano. A cantora, que já havia esperado tanto tempo entre o álbum de estreia, com seu nome no título, de 2010, preferiu aguardar o calendário virar de vez. “Achei que foi um ano muito pesado”, explica a cantora e compositora. “Para iniciar esse novo trabalho, eu quis também um ano novo.”

Por mais que essa ideia seja uma superstição – ou, pelo menos, sem explicações científicas -, Lua Full abre com força a temporada de 2017 dos lançamentos fonográficos que não são carnavalescos. Juliana é cantora de voz cristalina, das boas, com técnica sem perder a emoção justamente pelo excesso do bom uso das cordas vocais.

E eis um exemplo disso: Anoiteceu, a sexta canção do disco, é uma velha conhecida. A faixa, composta por uma trupe boa da música paulista (Zé Pi, Mauricio Fleury, Leo Cavalcanti e Tatá Aeroplano), saiu no disco Rizar, de Zé Pi, de 2015 e chamou a atenção pela delicadeza agridoce daqueles poucos versos. Zé não é cantor como Juliana, tem uma voz mais frágil e há beleza nessa interpretação sincera. A versão de Lua Full tem a participação do autor da canção no violão e na voz, mas reverbera para outro canto. A troca da fragilidade tocante da canção original pela pureza pop da voz de Juliana, aliada aos arranjos de violoncelo, fez bem à música. Anoiteceu renasce pronta para as rádios FM e para embalar abraços apaixonados durante a performance da moça ao vivo.

O show de debute de Lua Full já está marcado, aliás. A apresentação ocorre no teatro do Sesc Pompeia, na próxima sexta-feira, 20, com participações de Zé Pi e Thiago Pethit – o último participa de outro destaque do disco, Red Number.

Juliana não sobe ao palco para uma apresentação própria há tempos. Seu último show data de 2012, quando ela ainda promovia o disco de estreia, cuja produção era assinada por Gustavo Ruiz e Rodolfo Dias Paes, o DiPa. Na ocasião, contudo, prestava um tributo a Leonard Cohen, músico morto por esse 2016, como David Bowie, Prince, George Michael e Serena Assumpção. É em homenagem à última, amiga próxima dela, que vem o título do disco. Lua Full é também nome de uma das canções do disco, era um poema de Serena transformado em música por Juliana.

A artista deixou de subir aos palcos ao engravidar de gêmeas, Dora e Helena, hoje com 4 anos. Juliana foi tragada pela vida para longe das apresentações ao vivo. Precisou de repouso ou, como ela brinca, “virou concha”. Foi uma gravidez complicada, as meninas nasceram prematuras. Juliana teve depressão pós-parto. Seis meses após o nascimento delas, ela se separou. “Foi um turbilhão na minha vida”, explica. “Quando me senti forte de novo, comecei a compor novamente e liguei para o Gustavo”, conta ela. Assim como no primeiro disco, ela queria dois produtores. Desta vez, além de Gustavo, ela teve ao seu lado Luiz Chagas, pai do produtor e da cantora Tulipa Ruiz.

Passado todo o processo, com as meninas já com 2 anos de idade, Juliana voltou-se para a música. Suas canções já não seriam como daquele primeiro disco, cujo período de composição havia ocorrido em 2007. Por tudo o que viveu, Juliana Kehl, a artista, era outra. “O que me motivava a escrever era o futuro. Meu presente era difícil”, ela diz. Tão otimista quanto o início de 2017. “É um disco sobre um amor que está por vir.”

JULIANA KEHL

Sesc Pompeia. Teatro.

Rua Clélia, 93, Pompeia, tel.: 3871-7700. 6ª (20), R$ 6 a R$ 20

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