Notibras

Encontro de terraplanistas

Pois é, Bozo foi encontrar el loco Milei após sua vitória na eleição presidencial argentina. E aprendeu umas coisinhas que, em sua enviesadíssima opinião, asseguraram o triunfo do Mitón naquelas plagas.

– Foi o slogan. Viva la liberdad, carajo! Precisávamos de algo assim contra o novededos – jurava de pés juntos aos filhos e aos assessores remanescentes, cada vez mais escassos (os aspones, não os rebentos).

– Então fica como, ó mito? – perguntou um deles, provocador.

– Ora, fica Deus, pátria, família e liberdade, c… – e, vendo a cara de incredulidade da tigrada, explicou. – É, são muitas palavras, mas é o jeito.

– Não é isso, mito. Os evangélicos nunca que vão aceitar. Deus e palavrão na mesma frase…

Bozo parou, pensou – algo muito difícil para ele – e decidiu:

– Tem razão. Vamos de Deus, pátria, família e liberdade, carajo! Assim aqueles imbecis não percebem.

– Claro que vão perceber, mito – cortou um aspone. – São palavras parecidíssimas para a mesma coisa.

Nova pausa, dolorosa, para pensar. Em seguida, Bozo deu um suspiro e falou:

– É, que pena, nada de termos com c em nossa palavra de ordem. Mas tem outra explicação para a vitória do Mitón: os nomes de seus quatro cachorros. Vocês sabiam que aquele maluco deu nomes de economistas a seus quatro cachorros? Não tenho cachorros, mas tenho quatro filhos. Então… – deu uma olhada significativa para os pimpolhos.

– Poxa, pai, sacanagem do senhor! – disseram, em coro, 01, 02, 03 e 04.

– É o jeito. É isso, ou os comunistas vão ganhar em 2026 e em 2030.

Os numerais acabaram se resignando. Mas que codinomes receberiam?

– De economistas, que nem na Argentina, mito? – arriscou um aspone.

Não dava; o único economista cujo nome Bozo conhecia era o de Paulo Guedes. E não há rabo de pimpolho que aguente uma maldade dessas. Houve sondagens com sociólogos, filósofos, historiadores, psicólogos, nada, o mito era incapaz de citar um, quanto mais quatro.

– Só sei nome de general do meu exército. Exército vacilão, bando de traíra… – murmurou, com raiva. Controlou-se e prosseguiu: – Não dá. Não posso chamar um filho de meu general fulano, meu general sicrano, meu general beltrano. Imaginem a frase, “Meu general fulano, cê tá mijando na tampa do vaso!”

De repente, seu rosto se iluminou.

– Já sei! Mitón deu nome de gente à cachorrada, né? Vou inverter o processo, dar nome de cachorro à filharada!

– Poxa, pai, sacanagem do senhor! – uivaram, em coro, 01, 02, 03 e 04.

Mas não houve jeito. E a necessidade de garantir o futuro da extrema-direita em plagas tupiniquins falou mais alto.

E foi assim que 01, mais civilizado pouquinha coisa que o resto do clã, ganhou o simpático codinome de Fido.

Já o 02, o mais feroz da matilha, passou a atender por Thor.

O 04, que não fede nem cheira (pelo menos, em comparação aos mais velhos da trupe), teve de contentar-se com um reles Rex.

Mas o 03 criou o maior perrengue. Exigiu dois nomes de guerra. E conseguiu. Nas reuniões clandestinas no palácio, era chamado de Lassie. E, nas horas de delírio, só topava o jogo se o chamassem de Lolita, cadelinha dengosa e loqueta.

Sair da versão mobile