A música ensurdecedora e as luzes, combinadas com algumas doses de caipirinha, ofuscavam qualquer pensamento lógico. No entanto, Larissa teve a nítida percepção de que ouvira, quando perguntou a Mauro, se ele ainda a achava bonita.
— Tão real quanto sua beleza maquiada.
A mulher tentou raciocinar, mas não conseguiu encontrar um motivo para aquilo: o marido não a amava mais, pior. certamente a teria trocado por uma mais jovem, talvez até com a metade da sua idade.
— Você não me ama mais?
— Por que você está me perguntando isso?
— Você me ama?
O sujeito tentou cambiar palavras com ação, mas foi rispidamente impedido de beijar os lábios da esposa.
— O que foi, Larissa?
A mulher desabou em choro e soluços, borrando a maquiagem.
— Sai!
— O que eu fiz, meu amor?
— Amor? Você me acha horrorosa!
— Horrorosa? De onde você tirou isso, Larissa?
— Sai! Me larga!
Mauro procurou entender aquela situação e, então, apontou um culpado: o álcool. Ele sabia que Larissa nunca se dera bem com bebida alcoólica. Resolveu pedir a conta, quando o celular tocou. Instintivamente, ele pegou o aparelho, mas não atendeu.
— Atende! Vai, atende a sua amante!
— Amante?
— Aposto que é a Júlia!
— Júlia? Que Júlia?
— Deixa de ser cínico, Mauro!
— Amor, não conheço nenhuma Júlia.
— Ah, não? Então, você vai querer me dizer que não conhece nenhuma Júlia?
— Não!
— E a filha da Marília?
— Peraí! Você tá falando de uma garota que deve ter uns 18 anos.
— Vinte, seu cretino! Vinte!
— Vamos embora, meu amor. Por favor?
— Então, me responda!
— Responder o quê?
— Por que você me trocou pela Júlia?
— Larissa, meu amor, eu te amo! Não tenho outra mulher, muito menos a Júlia.
— Você jura?
— Claro que juro!
— Mesmo?
— Mesmo!
— Por que me chamou de feia, então?
— Feia? Nunca falei isso!
— Não?
— É claro que não, meu amor.
— Então, diz que sou linda.
— Você é linda.
— Diz que sou a mulher mais linda do mundo.
— Larissa, meu amor, você é a mulher mais linda do mundo.
— Jura?
— Juro.
— Então, vem aqui me dar um beijo.
Ao se aproximar dos lábios da amada, Mauro foi surpreendido por um vômito na cara. Pediu a conta e foram embora, apaixonados que eram, de mãos dadas.
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Eduardo Martínez é autor do livro ’57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’.
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