Dizem os calendários modernos que o 6 de setembro é o Dia do Sexo. Um rótulo curioso, quase banal, se comparado ao que o amor carnal já representou na história da humanidade. Nos templos de Afrodite, os corpos se ofereciam como hóstias vivas; em honra a Ísis, a fertilidade era bênção e rito; e sob a lua de Inanna, cada gemido era súplica para que os deuses garantissem colheitas abundantes. Não era apenas carne contra carne, mas mistério contra mistério, alquimia que fundia prazer e transcendência.
As culturas populares souberam manter acesa essa chama. Entre raízes fervidas em chás secretos, florais que prometiam prolongar o vigor, rezas sussurradas à beira da cama, havia sempre um gesto místico, quase supersticioso, de reconhecer no sexo algo que ultrapassa o corpo: a energia vital que renova a vida. O velho benzedeiro sabia que não bastava recomendar uma raiz afrodisíaca; havia de se invocar também a proteção das forças invisíveis, para que o prazer fosse pleno e abençoado.
Mas o tempo passa, o corpo cede, e muitos acreditam que o orgasmo, tão radiante na juventude, se apaga na velhice. Enganam-se. O êxtase não tem idade. Ele muda de pele, se transmuta, torna-se menos urgência e mais ritual. O toque já não é corrida, é caminho. O beijo não é apenas fome, mas degustação lenta. A respiração ritmada, o olhar demorado, a cumplicidade que só décadas de vida permitem: eis a nova química, mais refinada que qualquer explosão juvenil.
É a mesma lógica do Tantra, que ensina a despertar a kundalini adormecida; da alquimia erótica, que não separa alma e carne; do magnetismo dos corpos que se encontram para além das rugas, reconhecendo-se pela energia. O prazer, afinal, é fogo sagrado — e o fogo sabe se manter aceso, ainda que em brasas discretas, até os últimos instantes da existência.
E se ontem eram orações e oferendas, hoje são comprimidos azuis, cápsulas discretas, hormônios que prolongam o vigor. A farmácia, em certo sentido, substituiu o altar. O desejo, no entanto, continua o mesmo: manter vivo o direito ao gozo, seja pela bênção de Dionísio, seja pela ciência moderna. Entre o chá de catuaba e o Viagra, o fio condutor é sempre o mesmo: a humanidade não abdica daquilo que a faz sentir-se inteira.
Assim, quando setembro chega com seu “dia do sexo”, não se trata de calendário, mas de memória ancestral. A festa é íntima, secreta, celebrada a dois — ou consigo mesmo —, e confirma que o prazer não se curva às limitações da idade. Pelo contrário: na maturidade, o orgasmo pode ser ainda mais extasiante, não pela explosão, mas pela intensidade silenciosa de quem aprendeu que a alquimia do amor é infinita.
