[…] frágil equilíbrio de uma civilização mamute / pernas pro ar e vírus a dominar / incertezas que pairam como nuvens pesadas sobre nós /
isolamento / lamento / desamparo / tormento /
e vão e voltam e se batem combatem / na travessia da longa noite que ameaça eterna / caminhos de tropeços pisantes em ovos chocos / tempos sufocantes de álcool gel /
próximos / distantes / presentes / ausentes / bilhões desejando / mas não podendo eternizar / o contato e o toque e o beijo e o abraço/
isolamento / lamento / desamparo / tormento
petrificados trancafiados nos afagamos distantes / carinhos e emoções virtuais / possíveis afetos / idosos derrubados na Itália convulsões planetárias / dor pavor e horror no olho do furacão / muito além que chinês seguimos todos / refugiados na solidão e na dúvida / cidades vazias e almas em profanação /
isolamento / lamento / desamparo / tormento
fronteiras mesquinhas com dimensões estreitas / suspiros que explodem / no desespero do silêncio / a invasão de corpos / de mentes / de vidas / seres da barca de Creonte no fim do mundo /
isolamento / lamento / desamparo / tormento
gentes em desmanche / esperança partida / das mães que gritam e choram os filhos sem ar / o jogo do vírus / da política da morte e do terror total / respiração e espirro e disritmia / comoção viral
isolamento / lamento / desamparo / tormento
frágil equilíbrio de um planeta mamute / cotidemia* de paredes invisíveis / sofrimentos cotidianos concretos/ táteis / noite que parece sem fim.
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Gilberto Motta é escritor, jornalista e professor/pesquisador acadêmico. Enfrentou a pandemia vivendo em FDlorianópolis/SC e depois em São José do Rio Preto/SP. Vive, hoje, na Guarda do Embaú, vilazinha de paz no litoral Sul de SC.
