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Esta não é uma canção, mas um filme para o Rei

Julio Maria

O filme sobre Roberto Carlos começou a ser produzido. Aos 75 anos, o artista faz encontros em sua casa com o diretor Breno Silveira e equipe para contar passagens de sua vida que poucos conhecem. O longa, ainda sem previsão de estreia, vai começar nos anos de infância de Roberto e seguir até a saída do artista do programa Jovem Guarda, em 1968, quando segue para o Festival de San Remo, na Itália, e volta pronto para estrear sua carreira mais alinhada com a soul music e as canções românticas.

Breno conta com a ajuda de Nelson Motta para criar o roteiro. Um recurso a ser usado será a voz do próprio Roberto cantando a capela para narrar alguns episódios. “A sensação nesses encontros que estamos é de que ele vai abrir o coração mesmo”, diz Breno Silveira.

Ele não confirma a informação de que Roberto irá incluir ou deixar de fora temas delicados que estiveram na biografia de Paulo Cesar de Araújo, proibida de circular há 10 anos. O acidente do trem na infância, que o fez perder parte da perna direita, é um dos mais sensíveis.

Se a história deve ser contada, que seja por seu protagonista. Afinal, é ele, e mais ninguém, o dono das próprias lembranças. Não exatamente com essas palavras, mas com esse mesmo teor, Roberto Carlos defendeu sua postura contrária às biografias não autorizadas em 2014. Criou assim um fuzuê generalizado, iniciado mais precisamente há dez anos, quando o artista entrou na Justiça para tirar de circulação o livro Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo Cesar de Araújo, e finalizado em 2015, no tribunal mais alto do País, o STF. A decisão favorável às publicações sem autorização abriu a porteira para as editoras, empolgou biógrafos, mas nunca mudou as ideias de Roberto Carlos

Canções para mim – Se a história deve ser contada, uma delas será por seu protagonista. Roberto está em processo de revisionismo da própria vida, abrindo gavetas da memória, algumas mais pesadas, e narrando episódios até então desconhecidos para o cineasta Breno Silveira e o jornalista e produtor Nelson Motta. É o início do que deve se tornar uma produção cinematográfica das mais aguardadas do cinema nacional dos últimos tempos. A vida de Roberto, que já prometeu escrever também uma biografia, será contada por ele mesmo em um filme dirigido pelo homem que quebrou recordes de bilheteria com Dois Filhos de Francisco, de 2005, e que desenvolveu a trama de À Beira do Caminho, de 2012, a partir das canções de Roberto.

A linha de produção está na primeira etapa. Depois de decidirem o roteiro, com as passagens de Roberto devidamente colhidas, os produtores começam a garimpar os atores. Silveira, até agora, sentou-se por três vezes com Roberto. “Foram três encontros bem longos até agora.” Uma primeira informação divulgada pela imprensa, não confirmada pela direção, de que o cantor estaria falando sobre o acidente de trem na infância, que sacrificou parte de sua perna direita, teve uma péssima repercussão entre o artista e os produtores. Agora, todos tomam muito cuidado quando se pronunciam. E muitos, apenas sob anonimato. “Vai ser sobre a juventude de Roberto”, diz um deles.

O recorte adotado pelo cineasta será da infância de Roberto, na cidade capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, até o final da Jovem Guarda. Há muita vida depois do fim das jovens tardes de domingo, com a fase soul dos anos 1970, a romântica dos 80 e a religiosa dos 90, mas nada será aproveitado. As fases deixadas de fora suscitam a hipótese de que haja uma ou duas continuações, mas nada é confirmado.

O tom do filme não será de uma cinebiografia convencional. Algumas cenas terão como narrativa a voz de Roberto cantando a capela canções que explicam por si só sua vida, uma prova de que sua biografia está escrita há anos pelas suas próprias canções. Gente ligada à equipe de produção conta que o recurso da narração feita pelo próprio artista está sendo pensado para arrepiar o espectador.

As memórias de Roberto estão indo a recantos da alma que seu público não conhece. “Ele contou coisas incríveis, passagens que nem imaginávamos que havia vivido”, confirma Breno Silveira.

Outros jovem-guardistas – Seu amigo, Erasmo Carlos, deve ter a vida contada nas telas mais cedo. Em fase final de produção, Minha Fama de Mau (baseado em seu livro de memórias) tem previsão de estreia para o segundo semestre.

A direção é de Lui Faria e o ator Chay Suede é quem faz o papel de Tremendão. Wanderléa, a terceira integrante no time de apresentadores do programa Jovem Guarda, também terá sua vida passada a limpo por ela mesma e pelo jornalista Renato Vieira em um livro biográfico que está sendo finalizado. Do mesmo período, Eduardo Araújo lançou recentemente sua autobiografia, Pelos Caminhos do Rock, e Jerry Adriani prepara um livro de memórias para este ano, quando comemora 70 anos de idade.

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