Notibras

Estações Silenciosas

Verões gravados na pele da lembrança,
da infância bordada em sol e poeira,
sem néctares gelados, sem mares azuis,
apenas o frescor da água em jarra de barro.

Um chapéu de palha como coroa modesta,
a sombra rendada da palmeira na varanda,
e o perfume agreste das giestas e dos tojos
a embalar os dias em silêncio dourado.

O calor ardia nos campos de espigas secas,
durante a dança lenta da colheita,
com carroças de madeira e bois pacientes
que desenhavam trilhas no tempo.

Verões nas montanhas de teias esquecidas,
onde os riachos dormiam em leitos de pedra,
e as flores do deserto se agarravam à terra
como segredos que não querem partir.

Os ventos queimavam os rostos com ternura,
as mãos, esculpidas pelo sol,
tinham a textura da história,
negras de vida, enrugadas de coragem.

Hoje o calor é domado por máquinas frias,
há brisas artificiais e cristais gelados,
há conforto em cada canto,
e o banho espera como ritual moderno.

Mas a memória insiste em voltar
às noites de coaxos e estrelas tímidas,
ao som dos sapos e ao lago escondido,
onde o sono era leve como a brisa da eira.

Na estrada, o calor dançava em carros cansados,
sem frescor, apenas janelas abertas
e o vento como único alívio
na travessia dos dias longos.

Verões que se dissolveram no tempo,
que ninguém mais canta,
nem os grilos, nem as cigarras,
que eram sinfonia da terra em festa.

Nos campos da alma,
entre Extremadura e Castela-La Mancha,
a terra que me deu raízes
e a terra que me acolheu com ternura.

Hoje, as lembranças sussurram
em versos curtos e profundos:
as estações vêm e vão,
mas a vida… a vida sempre floresce.

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