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Estrabismo tem cura; adultos podem operar em casos de autoestima

Foto/Reprodução

Yasmin Caetano, de 19 anos, começou a sentir os efeitos do estrabismo com apenas um ano de idade, quando seu olho esquerdo começou a entortar em direção ao nariz – condição conhecida como convergente. Aos cinco, ela operou e, hoje, tem o olho alinhado, apesar de sentir que não enxerga perfeitamente dos lados. “Se eu dependesse só da vista estrábica, eu só enxergaria o que está na minha frente”, relata.

De acordo com a médica oftalmologista Marcela Barreira, essa condição se dá quando a criança desenvolve a ambliopia, também conhecida como “olho preguiçoso”.

Por natureza, a retina capta duas imagens, uma de cada olho, e as envia para o cérebro, que as une em uma única projeção. Entretanto, a mente da criança com estrabismo recebe dois estímulos visuais diferentes e escolhe a melhor imagem, beneficiando apenas uma vista.

“Esse desequilíbrio por tempo prolongado, durante os dois e sete anos de idade [período crítico para o desenvolvimento visual], pode ser irreversível, e o cérebro irá continuamente favorecer o olho com a melhor visão, reduzindo a capacidade visual do olho afetado”, explica.

Para prevenir essa situação, Marcela conta que usar tampão no olho sadio é uma forma de forçar o outro a se exercitar, evitando que ele fique cada vez mais lento. “A criança tende a usar mais o olho saudável em detrimento do que apresenta desvio. Isso pode diminuir ou afetar a acuidade visual [capacidade do olho de identificar a forma das coisas]. Assim, é preciso treinar os dois”, orienta.

A especialista ressalta, por outro lado, que esse procedimento não resolve o problema. Na maioria dos casos, a pessoa precisa passar por uma cirurgia, em que é feito o reajuste dos músculos da parte exterior do olho para deixá-lo centrado. Fora isso, o médico pode receitar o uso de óculos para casos em que o estrabismo se dá pela hipermetropia (anomalia em que os objetos próximos ficam embaçados), astigmatismo (visão embaçada) ou acomodação ocular.

Autoestima – Algumas pessoas acreditam que só crianças podem operar ou que esse procedimento é arriscado, mas os adultos podem melhorar a visão binocular (quando ambos os olhos são usados) e ter benefícios físicos e psicológicos após uma cirurgia para a correção das vistas. “O estrabismo que aparece nessa fase da vida pode ser por diversos motivos, como manifestação ocular de doenças neurológicas, musculares e da tireoide”, aponta Marcela.

No entanto, algumas pessoas não ficam completamente curadas após operar. Ellen Pace, por exemplo, tem 27 anos, começou a ficar com os olhos tortos ainda pequena e diz que o problema a atormenta até hoje. “É pior lidar com o estrabismo do que com qualquer detalhe físico. Em muitos momentos, não consigo olhar nos olhos das pessoas por ter vergonha de ser estrábica”, desabafa. “Fico frustrada por não poder dirigir e por ter que ouvir que uma pessoa não sabia que eu estava falando com ela por eu estar olhando para outro lugar. Isso me dá uma raiva imensa”, diz.

Na página do Facebook O Diário de um Estrábico, uma senhora, que não revelou o nome nem a idade, relatou que operou duas vezes e, ainda assim, seu olhar não ficou perfeito. “É muito dolorido [o sentimento] e afeta a minha autoestima. Depois de anos de luta, ainda me sinto cabisbaixa, diminuída e eu me excluo por isso”, lamenta.

Há dois anos, o youtuber PC Siqueira também passou pelo procedimento e afirmou que agora se sente muito mais seguro. Além disso, ele explicou que a operação tem um impacto social e econômico na vida do paciente, uma vez que os estrábicos têm menos chances de conseguirem empregos e de se casar. “Pessoas que têm estrabismo sofrem bullying, têm mais obstáculos para arranjar namorado e namorada. Elas se sentem mal, têm uma dificuldade até na hora de competir no mercado de trabalho”, relata.

Os casos se estendem também na infância. Yasmin Caetano recorda que não entendia muito bem sobre a questão estética por trás do estrabismo quando era criança, e começou a ouvir comentários negativos na escola.

Vinicius é portador de Síndrome de Down e sua mãe, Francine Alves, identificou o estrabismo no menino quando ele já tinha cinco anos. “Desde quando meu filho foi diagnosticado, ele usa dois graus em cada olho”, explica a mulher no relatório Problemas de Visão, da ONG Movimento Down em parceria com o Hospital Albert Einstein.

O estudo aponta que cerca de 20% das crianças com a síndrome apresentam estrabismo no Brasil. Dessas, 40% tem o olho acomodado por causa da hipermetropia.

Os autores da análise explicam que, geralmente, é mais difícil detectar que uma criança com Down é estrábica devido aos olhos puxados. “É aconselhável que todas as crianças portadoras [da síndrome] façam exames de rotina com maior frequência”, indicam.

Marcela Barreira ressalta que os bebês de até três meses – portadores ou não da síndrome – podem apresentar algum grau de imaturidade visual e algum desequilíbrio no alinhamento dos olhos. Contudo, desvios bem estabelecidos e fixos desde o nascimento não mudam e podem significar estrabismo. “O ideal é levar a criança ao oftalmologista infantil para uma avaliação mais apurada”, aconselha.

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