Meu marido, o escritor Eduardo Martínez, é carioca. Mas não é qualquer carioca, não. É nascido em Botafogo, com vista pro Pão de Açúcar e sotaque que parece ter sido aprovado por Zeca Pagodinho antes de ser liberado pro uso civil. E eu acho bonito, de verdade, a forma como ele ama sua terra natal. Um amor que não balança, mesmo com os tropeços da cidade.
O Rio pode estar enfrentando mil crises por segundo, mas Eduardo olha pra tudo aquilo e vê beleza. Enquanto o mundo aponta os defeitos, ele aponta o pôr do sol no Arpoador. Enquanto todo mundo fala da violência, ele fala da brisa no Aterro do Flamengo, da confusão boa do Saara, das barraquinhas da Feira de São Cristóvão que servem carne de sol com aipim frito, do charme dos bares na Voluntários da Pátria em Botafogo, onde cada chope parece vir com uma história embutida.
Agora, tem um lugar que mora num cantinho ainda mais privilegiado do coração dele: Copacabana. Eduardo fala do bairro como quem descreve um grande amor da juventude. Não importa se tem engarrafamento, camelô vendendo adaptador de tomada ou turista perdido no calçadão — pra ele, Copacabana é a alma do Rio. É ali que ele se sente inteiro, inspirado, em casa. Eu arriscaria dizer que, se deixassem, ele pedia a cidadania copacabanense em cartório.
E aí tem o Centro, onde ele caminha como quem passeia dentro de um livro de história. E o Maracanã, templo sagrado do futebol, onde ele quase chora cada vez que pisa, lembrando dos tempos que assistia aos jogos com o pai. E o Mercadão de Madureira, onde ele vai não só pelas especiarias, mas pela sensação de que ali pulsa o verdadeiro coração suburbano do Rio. É uma relação intensa. Quase religiosa. O Rio, pra ele, é mais que cidade. É personagem principal.
Eu, por minha vez, confesso, até já comecei a olhar o Rio com os olhos dele. Porque quando Eduardo fala do Rio, ele não está só defendendo a cidade… está falando de casa, de memória, de afeto.
