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Fim da guerra é único ponto em comum entre Lula e Bolsonaro

Na maioria das questões, o presidente Jair Bolsonaro, do Partido Liberal, tido como nacionalista populista conservador, e seu rival Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, o lado socialista democrático e populista de esquerda, são opostos polares. Do desenvolvimento econômico, inflação e desemprego ao meio ambiente, saúde e defesa dos interesses nacionais do país, os dois têm visões radicalmente diferentes para o futuro do Brasil. Mas há um assunto com a qual os candidatos de primeira linha nas eleições brasileiras parecem concordar: a necessidade de diálogo para resolver a crise na Ucrânia.

“As barreiras econômicas que os Estados Unidos e a Europa impuseram contra a Rússia não funcionaram”, disse o presidente Bolsonaro em um discurso em julho. “Minha linha era a do equilíbrio, além de negociar fertilizantes, segurança alimentar para o mundo e soberania para nossa Amazônia”, acrescentou o presidente.

Em um discurso separado, Bolsonaro instou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a ser realista sobre o resultado final do conflito com a Rússia. “Vou dar minha opinião sobre o que acredito – a solução para o problema… Como terminou a guerra da Argentina com o Reino Unido em 1982? E é assim que acontece. Lamentamos, a verdade é que essas coisas doem, mas temos que entender”, disse.

Falando na Assembleia Geral das Nações Unidas no mês passado, Bolsonaro pediu um “cessar-fogo imediato” na Ucrânia e disse que a crise mergulhou o planeta em um desastre. “Na ONU e em outros fóruns, tentamos evitar o bloqueio dos canais de diálogo causados ​​pela polarização em torno do conflito. Nesse sentido, somos contra o isolamento diplomático e econômico”, disse Bolsonaro .

As consequências da crise foram sentidas por pessoas em todo o mundo através do aumento dos preços de alimentos, energia e outros bens, disse ele. “Apoiamos todos os esforços para reduzir os impactos econômicos desta crise. Mas não acreditamos que o melhor caminho seja a adoção de sanções unilaterais e direcionadas, contrárias ao direito internacional. Essas medidas prejudicaram a recuperação econômica e afetaram os direitos humanos de populações vulneráveis, inclusive em países da própria Europa”, enfatizou Bolsonaro. “A solução para o conflito na Ucrânia só será alcançada por meio de negociação e diálogo”, sublinhou.

Lula ecoou os sentimentos de Bolsonaro sobre a necessidade de mais diálogo para resolver a crise ucraniana. Em uma entrevista para a revista Time, o candidato presidencial criticou o Ocidente por seu papel no desencadeamento da crise e atacou Zelensky por seu carisma.

“Nós, políticos, colhemos o que plantamos. Se eu semear fraternidade, solidariedade, harmonia, colherei coisas boas. Se semear discórdia, colherei brigas. Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é apenas Putin que é culpado. Os EUA e a UE também são culpados. Qual foi o motivo da invasão? OTAN? Então os EUA e a Europa deveriam ter dito ‘a Ucrânia não se juntará à OTAN’. Isso teria resolvido o problema”, disse Lula.

“As conversas [sobre alcançar a paz] foram muito poucas. Se você quer paz, tem que ter paciência. Eles poderiam ficar sentados em uma mesa de negociação por 10, 15, 20 dias, um mês inteiro, tentando encontrar uma solução. Acho que o diálogo só funciona quando é levado a sério”, acrescentou.

Lula sugeriu que Zelensky era “tão responsável” quanto seu colega russo pelo conflito, dizendo que o presidente ucraniano poderia ter adiado as negociações sobre a adesão de Kiev à Otan e à União Europeia, pelo menos temporariamente.

“Não conheço o presidente da Ucrânia. Mas seu comportamento é um pouco estranho. Parece que ele faz parte do espetáculo. Ele está na televisão de manhã, tarde e noite. Ele está no parlamento do Reino Unido, no parlamento alemão, no parlamento francês, no parlamento italiano, como se estivesse fazendo uma campanha política. Ele deveria estar na mesa de negociações”, enfatizou.

Lula também disse que “estimular o ódio contra Putin… não vai resolver as coisas”, e que o apoio ocidental a Zelensky convenceu o presidente ucraniano de que “ele é a cereja do bolo”. Lula criticou o presidente dos EUA, Joe Biden, dizendo que os Estados Unidos poderiam ter usado sua imensa influência política no mundo para “evitar” o conflito em vez de “incitá-lo”, inclusive admitindo que a Ucrânia não ingressaria na Otan.

“Deixe-me dizer uma coisa: se eu fosse presidente do Brasil e me dissessem ‘o Brasil pode entrar na Otan’, eu diria que não”, encerrou.

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