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Flávio, uma candidatura difícil de sustentar

Segundo a pesquisa Quaest divulgada ontem, Flávio Bolsonaro ganhou força. Não é pouca coisa, especialmente se considerarmos que a maioria dos entrevistados ainda acha que Jair Bolsonaro errou ao escolher o filho mais velho para disputar a Presidência. Há aí uma contradição evidente: o nome avança, mas a decisão que o colocou em cena segue sendo vista como equivocada por uma parcela significativa do eleitorado.

Michelle Bolsonaro poderia ser uma alternativa óbvia. Tem o sobrenome, tem visibilidade, boa aceitação e, sobretudo, trânsito junto ao eleitorado evangélico, um segmento decisivo em qualquer eleição nacional. Ainda assim, não foi a escolhida de Jair. Ironicamente, justo ela, que reúne atributos eleitorais mais claros, foi deixada de lado em nome de um projeto que parece mais familiar do que estratégico.

Talvez por isso mesmo, pensando em compensar essa fragilidade, o primeiro compromisso público de Flávio após anunciar a candidatura tenha sido em uma igreja. Nada foi improvisado. O encontro com a imprensa logo após o culto já estava combinado, tudo cuidadosamente orquestrado. A cena, o ambiente e o timing dizem muito sobre o caminho escolhido para tentar consolidar sua imagem.

O discurso religioso, aliás, está cada dia mais afiado. Flávio se apresentou recentemente como “um instrumento de Deus para pacificar o Brasil”, e é difícil acreditar que isso seja um ponto fora da curva. Ao contrário, tudo indica que ouviremos, com frequência crescente, falas carregadas de referências religiosas, cuidadosamente moldadas para dialogar com um público específico.

Resta saber se essa estratégia será suficiente. Convencer o eleitorado evangélico não é apenas frequentar cultos ou repetir palavras-chave do vocabulário religioso. É construir uma imagem de fé que seja percebida como autêntica. E essa, talvez, seja a prova mais difícil que Flávio Bolsonaro ainda terá de enfrentar ao longo da campanha.

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